quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

No Parana, mais um ingrediente às férias

Paraná monta biblioteca com 1.200 títulos, DVD e internet na areia da praia

Fonte: Folha

Quem vai à praia no Paraná pode se deparar com bibliotecas montadas em plena areia. No litoral do Estado, quatro tendas com cerca de 1.200 livros cada foram instaladas pela primeira vez durante a temporada de férias nos principais pontos da orla.

Nas cidades de Guaratuba e Matinhos e na Ilha do Mel, a estrutura disponível debaixo da lona é a mesma de uma biblioteca comum, acompanhada de um espaço para contar histórias, mesas, cadeiras, computador com internet, TV e DVD.

A iniciativa é do governo do Estado. A retirada de livros é gratuita mediante um cadastro. As tendas funcionam todos os dias, até 15 de fevereiro, das 10 às 19h.

Projeto

A ideia surgiu na esteira de um projeto estadual iniciado em 2004 para erguer bibliotecas em cidades que não possuíam o espaço.

De acordo com a Secretaria Estadual da Cultura, todo o acervo será absorvido após o verão pelas bibliotecas municipais das cidades.

O índice de devolução dos livros beira os 100%, segundo a secretaria.

A média de frequência é de 200 pessoas por dia. Uma das obras mais requisitadas é o best-seller "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini.

Os livros, emprestados por cinco dias, são na maioria de autores consagrados da literatura brasileira e estrangeira, como Dalton Trevisan, Carlos Drummond de Andrade e Gabriel García Márquez.

Fernando Sabino

Turista de Guarapuava (PR), a professora Dirlei Ilivinski, 46, disse que a presença de uma biblioteca na praia mostra que a cultura pode concorrer com outras atividades identificadas com a época, como festas e esporte. Ela disse ter testado o acervo da biblioteca instalada em Matinhos ao pedir e localizar "A Faca de Dois Gumes", de Fernando Sabino.

Quando viu uma tenda e suas estantes de livros pela primeira vez, o biólogo João Roberto Maceno Silva, 48, morador de Matinhos, concluiu que se tratava de um ponto de venda de livros. Foi checar e percebeu que poderia agregar, sem mexer no bolso, mais um ingrediente às férias. "A leitura é algo que combina com a tranquilidade de uma praia", diz.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Uma questão de Soberania

Ate eu vou dar meu pitaco sobre o caráter de Refugiado Político dado a Cesare Battisti, esquerdista italiano que é acusado de vários crime cometido contra o Estado Italiano em meado da década de 70 (Estado este de extrema direita, Estado Ditatorial).

O Brasil, que nesta época também fora uma ditadura, age correto em sua decisão, como já a agira correto no caso de outros 4 italianos, também condenados por crimes em seu país, os mesmos pelo qual Cesare Battisti é acusado agora....

Temos que lutar contra a hipocrisia, hipocrisia esta que alguns setores acusam o Governo Brasileiro de agir errado em sua decisão, decisão esta baseada em aspectos jurídicos, muito bem fundamentada....

O Brasil assim caminha para mostrar ao mundo que é um país que lutar pelas causas humanas, e sabe reconhecer aqueles que lutam pelo direito de liberdade.

Abaixo, textos assinado pelo Prof. Dalmo de Abreu Dallari, que saiu em diversos jornais, dentre ele o Diário do Grande ABC de ontem, que elucida muito bem a posição do Brasil.

Refugiados, uma decisão soberana do Brasil

DALMO DE ABREU DALLARI*

No caso de Cesare Battisti estão presentes os requisitos fundamentais para a concessão do estatuto de refugiado

Uma decisão recente do ministro da Justiça do Brasil, concedendo o estatuto de refugiado ao cidadão italiano Cesare Battisti, merece especial atenção por sua importância dos pontos de vista ético, jurídico e político.

É oportuno lembrar que toda a história brasileira, desde 1500, é uma constante de concessão de abrigo e proteção a pessoas perseguidas por intolerância política, discriminação racial ou social e outros motivos injustos, como o uso arbitrário da força.

Assim, na segunda metade do século 20, pessoas perseguidas por se oporem aos regimes comunistas estabelecidos na Europa oriental, assim como outras que sofriam perseguição em países vizinhos do Brasil, por se oporem a governos fortes de extrema direita, procuraram e obtiveram no Brasil a condição de refugiados.

Deixando de lado as conveniências políticas e dando a devida prioridade aos valores do humanismo, o Brasil decidiu soberanamente, com independência, e concedeu aos perseguidos a proteção de sua ordem jurídica. No caso de Cesare Battisti estão presentes os requisitos fundamentais para a concessão do estatuto de refugiado, como fica evidente pela análise dos antecedentes do caso e pelo exame sereno dos dados do processo, minuciosamente expostos pelo ministro da Justiça.

Há pouco mais de 30 anos, Battisti foi militante de um grupo político armado, de orientação esquerdista. O governo italiano da época, de extrema direita, estabeleceu o sistema de delação premiada, pelo qual os militantes que desistissem da luta armada e delatassem seus companheiros ficariam livres de punição. Com base numa delação premiada, Battisti foi acusado da prática de quatro homicídios, sendo condenado à prisão perpétua.

Além de só haver como prova as palavras do delator, dois desses crimes foram cometidos no mesmo dia, em horários muito próximos e em lugares muito distantes um do outro, de tal modo que seria impossível que Battisti tivesse participado efetivamente de ambos os crimes.

Dispõe expressamente a lei nº 9.474, de 1997, que trata do Estatuto dos Refugiados no Brasil, que será reconhecido como refugiado o indivíduo que, devido a fundados temores de perseguição por motivo de opinião política, encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não queira acolher-se à proteção de tal país.

Além daquela contradição no julgamento de Battisti, outro dado revelador é a enxurrada de ofensas e agressões de ministros do governo italiano ao governo e ao povo do Brasil pela decisão do ministro Tarso Genro.

Reagindo com extrema violência, o ministro do Exterior convocou o embaixador brasileiro na Itália para exigir a mudança da decisão, ao mesmo tempo em que outros ministros fizeram ameaças de represália, inclusive de boicote da participação do Brasil em reuniões internacionais.

Entretanto, muito recentemente o governo da França negou atendimento a pedido italiano de extradição de Marina Petrella, que, como Battisti e na mesma época, foi militante de um movimento político armado, as Brigadas Vermelhas. O governo italiano acatou civilizadamente a decisão francesa, reconhecendo tratar-se de um ato de soberania. Qual o motivo da diferença de reações? O governo e o povo do Brasil não merecem o mesmo respeito que os franceses?

Essa diferença de comportamento dos ministros italianos deixa mais do que evidente que é plenamente justificado o temor de Battisti de sofrer perseguição por motivo político. A reação raivosa dos ministros italianos não dignifica a Itália e elimina qualquer dúvida.

Por tudo quanto foi exposto, a decisão de Tarso Genro merece todo o acatamento. Expressa em linguagem clara e objetiva, deixando evidente sua inspiração humanista, livre de preconceitos ou parcialidade de qualquer espécie, a decisão tem sólido fundamento em dados concretos e faz aplicação correta e precisa dos preceitos jurídicos que regem a matéria.

A concessão do estatuto de refugiado a Cesare Battisti é um ato de soberania do Estado brasileiro e não ofende nenhum direito do Estado italiano nem implica desrespeito ao governo daquele país, não tendo cabimento pretender que as autoridades brasileiras decidam coagidas pelas ofensas e ameaças de autoridades italianas ou façam concessões que configurem uma indigna subserviência do Estado brasileiro.

DALMO DE ABREU DALLARI , 76, é professor emérito da Faculdade de Direito da USP. Foi secretário de Negócios Jurídicos do município de São Paulo (gestão Erundina).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Afinal, não sou só eu quem faz aniversário dia 25, não é verdade....

Aniversário de São Paulo terá shows de Lulu Santos e Daniela Mercury; veja programação

Fonte: Folha de S.Paulo

Os shows gratuitos de Lulu Santos e Daniela Mercury são os grandes destaques da programação do aniversário de São Paulo. No domingo (25), a cidade comemora 455 anos de fundação.

Lulu Santos e Daniela Mercury se apresentam no parque da Independência (Ipiranga, zona sul), em show que contará também com artistas como Ana Cañas, Toni Garrido, Diogo Nogueira e Paula Lima.

O evento Vale da Participação e Parceria, espécie de "minivirada cultural" com cerca de 30 horas de shows, oficinas culturais e prestação de serviço será realizado no Anhangabaú (centro).

No Sesc Pompeia, com ingressos a preços populares, o show Sotaques Paulistas terá Karnak e Zeca Baleiro, entre outros artistas.

Para quem gosta de pedalar, há dois eventos. Com saída da ponte Octavio Frias de Oliveira e chegada na USP haverá a primeira edição do Bike Tour São Paulo, já com inscrições esgotadas. Se a ideia é passear por locais históricos do centro, a melhor pedida é o Pedal do Aniversário de São Paulo, com saída do parque das Bicicletas, em Moema (zona sul).

Dos eventos oficiais, constam a missa na Catedral da Sé e a solenidade de fundação da cidade no Pátio do Colégio.

Veja programação de aniversário dos 455 anos de São Paulo

Dia 23

18h - Show do grupo Choronas - Local: Espaço Cultural Caixa

19h - Mostra Cinemateca SP (Parques infantis da cidade de São Paulo / Boleiros era uma vez o futebol)- Local: Cinemateca Brasileira

21h - Mostra Cinemateca SP (Vistas aéreas de São Paulo / Linha de Passe) - Local: Cinemateca Brasileira

21h - Show Sotaques Paulistas (Fortuna, grupo Himawari de música japonesa, Mafalda Minnozzi, a cantora portuguesa Suzana Travassos, Zeca Baleiro e Karnak) - Local: Sesc Pompeia

Dia 24

10h - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (centro) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

12h30 - Cantora Patty Ascher e Orquestra Arte Viva, sob a regência do maestro Amilson Godoy - Local: Praça Victor Civita

14h15 - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (centro) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

14h15 - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (Parque do Ibirapuera) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

15h - Abertura do evento "Vale da Participação e Parceria" - Local: Vale do Anhangabaú

15h - Mostra Cinemateca SP (Lucas Nogueira Garcez / São Paulo S/A) - Local: Cinemateca Brasileira

15h - Show da Trupe do Trovão (luta livre) - Local: Clube Escola Juscelino Kubitschek

15h às 20h - Baile do Idoso - Local: Vale do Anhangabaú

16h - Apresentação da banda e coral da GCM - Local: Vale do Anhangabaú

17h - Apresentação da banda da PM - Local: Vale do Anhangabaú

17h15 - Mostra Cinemateca SP (Festa do Divino em Nazaré Paulista / Antônia O Filme) - Local: Cinemateca Brasileira

18h - Show do grupo H2P (rap) - Local: Vale do Anhangabaú

18h - Show do grupo Choronas - Local: Espaço Cultural Caixa

19h - Show de Liu Mr (rap) - Local: Vale do Anhangabaú

19h - Show da banda Tribo de Jah - Local: Centro Cultural São Paulo

19h15 - Mostra Cinemateca SP (Retificação do rio Tietê / O Profeta da Fome) - Local: Cinemateca Brasileira

20h - Show do grupo Abadengo (samba) - Local: Vale do Anhangabaú

21h - Show Sotaques Paulistas, com Fortuna (cantora de origem judaica), grupo Himawari de tambores japoneses, Mafalda Minnozzi (Itália), Suzana Travassos (Portugal), Zeca Baleiro e Karnak - Local: Sesc Pompeia

21h - Show do grupo Fonte Nova (samba) - Local: Vale do Anhangabaú

21h15 - Mostra Cinemateca SP (Viagem em redor de São Paulo / O Grande Momento) - Local: Cinemateca Brasileira)

22h - Show do grupo Alto Lá (Samba) - Local: Vale do Anhangabaú

0h - Show principal (a definir) - Local: Vale do Anhangabaú

Dia 25

1h - Show de João Pedro e escola de samba Portela - Local: Vale do Anhangabaú

2h - Show do cantor Almir Guineto - Local: Vale do Anhangabaú

3h - Show do grupo Samba da Laje - Local: Vale do Anhangabaú

4h - Show do Quinteto em Branco e Preto - Local: Vale do Anhangabaú

5h - Show do grupo Terreiro Brasil - Local: Vale do Anhangabaú

6h - Show do grupo Spainy & Trutty (rap) - Local: Vale do Anhangabaú

8h - Troféu Cidade de São Paulo (corrida pedestre) - Local: largada no Obelisco do Ibirapuera

9h - Pedal do Aniversário de São Paulo (passeio ciclístico) - Local: largada no Parque das Bicicletas

9h - Apresentação do Coral Dom Bosco - Local: Vale do Anhangabaú

9h40 - Bike Tour São Paulo (passeio ciclístico) - Local: largada na ponte Octavio Frias de Oliveira

10h - Missa do aniversário - Local: Catedral da Sé

10h - Show do grupo Ephata (rock) - Local: Vale do Anhangabaú

10h - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (centro) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

10h (a confirmar) - Final da Copa São Paulo de Futebol Júnior - Local: Estádio do Pacaembu ou Estádio do Nacional

11h - Orquestra Bachiana Jovem regida por João Carlos Martins - Local: Praça Victor Civita

11h30 - Ato solene do aniversário - Local: Pateo do Collegio

13h - Show do bloco afro Ilú Obá de Min - Local: Vale do Anhangabaú

14h - Show do grupo Samba de Rainha - Local: Vale do Anhangabaú

14h - Mostra Cinemateca SP (Boleiros Era Uma Vez O Futebol) - Local: Cinemateca Brasileira

14h15 - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (centro) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

14h15 - Roteiro Três Momentos de Oscar Niemeyer (Parque do Ibirapuera) - Local: saída do Museu da Casa Brasileira

15h - Show da Trupe do Trovão (luta livre) - Local: Clube Escola José de Anchieta

16h - Mostra Cinemateca SP (Linha de Passe) - Local: Cinemateca Brasileira

16h às 18h30 - Show Telefonica Trio Tons (apresentações de Lulu Santos, Daniela Mercury, Toni Garrido, Roberta Sá, Celso Fonseca, Diogo Nogueira, Paula Lima, Ana Cañas e grupo sinfônico Arte Viva regida pelo maestro Amilson Godoy e participação especial do pianista João Carlos Martins) - Local: Parque da Independência

17h - Serenata para São Paulo com o grupo Trovadores Urbanos - Local: Theatro São Pedro

18h - Grito de Carnaval - Local: Vale do Anhangabaú

18h - Show Sotaques Paulistas (Fortuna, grupo Himawari de música japonesa, Mafalda Minnozzi, a cantora portuguesa Suzana Travassos, Zeca Baleiro e Karnak) - Local: Sesc Pompeia

18h - Show da cantora Aline Muniz - Local: Praça Victor Civita

18h - Show de samba com o grupo Sandália de Prata - Local: Centro Cultural São Paulo (R$ 10)

18h - Mostra Cinemateca SP (dez documentários e debate) - Local: Cinemateca Brasileira

18h - Show do grupo Choronas - Local: Espaço Cultural Caixa

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Pra entrar em campo

Só uma palavra define tudo isso....EU SOU FÃ do cara....alem de um impressionante músico (já provou isso sendo na pele de um Titã e com seu leque fantástico de parcerias, cito Cássia Eller e Samuel Rosa, só pra ficar em dois), escreve como ninguém......seu nível de ESCLARECIMENTO é impar....abaixo coluna de Nando Reis no Estado de hoje

Madrugada, três e meia da manhã, Rio de Janeiro. Chego de volta ao hotel, após mais uma jornada de trabalho. Estamos gravando um novo disco, eu e Os Infernais. Da sacada do quarto posso ver a orla, a bainha branca da espuma das ondas estourando sobre as areias claras da baía de Copacabana. Ouço a música ininterrupta do vaivém das ondas e ela se junta a outras músicas que vão e vêm aqui no silêncio do invento da minha cabeça. Tudo se mistura, funde e se confunde com o que traz o ar e o que leva o vento intenso pra fora do quarto. Escrever músicas é como imaginar jogadas. Fazer um disco é formar um time pra jogar um campeonato sem regras, infinitamente.

Nossa pré-temporada foi em Ubatuba, onde ensaiamos as canções que eu havia escrito ao longo de um ano e meio, talvez um pouco mais. Com a letra de cada uma delas impressa numa folha de papel, apresentei para a banda o conjunto das 11 composições, cada uma um capítulo de uma única história. Uma por uma, uma de cada vez, foi assim que transformamos as palavras grafadas no branco do sulfite em uma armação volátil, numa engrenagem que prendia as sílabas às notas. Dessa forma as músicas começaram a sair do túnel escuro da latência de sua espera.

E, como flores descobertas pela luz e pela ventilação, a semente gerou o botão que cresceu e se abriu em pétalas, ergueu-se em caule, entre folhas e espinhos.

Escrevo muito comparando o futebol ao que é a vida. É uma associação tão imediata, tão direta que é quase óbvia - essa é uma ideia mais do que simples, chega a ser mesmo vulgar. Talvez porque haja nessa minha profissão (que é uma parte tão concreta do que é minha própria vida) uma relação profunda com o esporte. É criação e entretenimento.

Concepção lúdica que articula intenção em expressão e movimento. E assim, de uma forma ou de outra, mobiliza paixão, seja por amor ou por ódio. Há os que gostam e os que não gostam. Há também os que ficam indiferentes, pois na vida quase tudo é assim: diz respeito a alguns, às vezes a muitos, mas nunca a todos. Não há unanimidade nem no que é consensual - todos sabemos que nascemos para a vida, mas nem todos concordam sobre nossa origem. Uns preferem a Darwin, outros preferem a Deus.

Nessa imersão necessária a que me entrego para concluir esse trabalho, tenho pouco acesso à luz do dia e à tinta das páginas dos jornais. Os campeonatos regionais estão agora começando, a Copa São Paulo de Juniores está ainda se desenvolvendo, mas foi lá da Europa que veio a notícia de maior impacto: a vultosa soma que o Manchester City estendeu às mãos desinteressadas de Kaká. Confesso que fiquei espantado tanto com a oferta como com o desfecho desconcertante, a negativa do atleta à suntuosa proposição. Um teto pode desabar por desleixo, mas quem crê no céu não cai facilmente em tentação. Impressionante.

Hoje já tem coisa acontecendo nos campos do nosso Estado, ontem mesmo teve jogo. O ano está cheio de acontecimentos, daqui a pouco tudo estará pegando fogo. A seleção não demora a dar as caras e toda a pressão sobre Dunga pode voltar em um segundo. Acabou o inverno do calendário e das férias do futebol, que por aqui acontece sempre em pleno verão. E, assim, de fato começa mais um ano. Parece que é a mesma coisa, mas nunca é igual. Depois de um sono bom ou breve é só lavar o rosto que a gente já está pronto pra sair pra rua. Cada um na sua direção, cada um com o seu trabalho. Seja músico, atleta, padeiro, guarda-noturno. Eu por aqui vou fazendo o que posso, preparando o meu time, porque daqui a pouco a gente entra em campo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Casual, não inconsequente

Nando Reis, quinta no Estado

Após um sono necessário e restaurador, acordei na tarde de domingo por volta das sete horas. Tinha feito show na madrugada e viajado de volta a São Paulo pela manhã. Assim que despertei, me lembrei que tinha perdido Roma x Milan. Liguei a TV em tempo de ver os cinco minutos finais. Que jogo! Pelo menos nesses 5 minutos a bola não parou. Numa sucessão impressionante de ataques e contra-ataques cada equipe poderia ter feito dois ou três gols, tal a agudeza dos lances. O placar já estava 2 a 2, e assim terminou. Brasileiros em campo? Contei Kaká, Pato, Cicinho, Juan e Júlio Batista. Ronaldinho Gaúcho não estava e não reparei na presença de Doni. Uma seleção.

Não vou enveredar pelo caminho da queixa, o lamento de não ver jogos assim em nossos campos. Cansei. É esse o quadro atual, o status do futebol jogado no Brasil é de outro nível. Para não ferir o brio dos nossos representantes, daqueles que permanecem jogando futebol nesta terra tropical, vou dizer que o status do nosso futebol é continental. Aqui só jogam sul-americanos. Na Europa, uma legião estrangeira. E isso estabelece indiscutível diferença. Mas vi naquele imenso contingente de brasileiros exibindo seu talento em prados italianos uma imagem interessante de deslocamento e me permiti um devaneio, imaginando a vida diferente.

O que teria acontecido comigo, se não tivesse entrado naquele trem? A vida que não teria conseguido, se tivesse insistido com a faculdade de Matemática e não a tivesse abandonado para tocar violão? Um dia desses meu filho me perguntou por que não aceitei convite que me fizeram na adolescência para entrar no Santa Cruz e não no Colégio Equipe. “Para encontrar sua mãe.” Sem saber, minha opção por uma escola e não pela outra me levou a conhecer a menina que veio a ser minha mulher e hoje é a mãe de quatro dos meus cinco filhos. Na fila da apostilaria estava o futuro que deu origem ao menino e a possibilidade de sua pergunta.

Sobre os ladrilhos hidráulicos xadrez pisavam os passos desconhecidos que me levaram ao casamento. Se ela não estivesse lá, não estaria eu hoje aqui.

Quantos desses pequenos encontros, dessas pequenas escolhas não acabam por determinar o resto de nossos dias? Ir ao cinema hoje pode significar que seremos avôs daqui há cinquenta anos. Talvez na poltrona ao lado, talvez na fila da pipoca, talvez parada na vaga ao lado do seu carro no estacionamento esteja a mulher que procurou a vida inteira. Talvez na calçada esburacada que te fez tropeçar, pois a chuva que caía sobre seu rosto te impediu de ver o vulto que vinha a seu encontro e assim, de um tropeção enlameado numa poça d’água na Paulista, vocês se encontraram pela primeira vez. Sim, olhando pra trás tudo parece ter lógica e fazer sentido.

Construímos nossas vidas e depois de feitas parecem que sempre assim existiram e apenas esperavam pelo tempo de sua revelação. É mera ilusão a ideia de que existe o futuro. Cada gesto novo, cada movimento, cada passo que vá em alguma direção, terá como decorrência uma sucessão de outros encontros, e nessa corrente de elos amarramos os fatos que constroem e criam nossas vidas.

Nem peixes nadando coordenados em cardumes, nem pássaros voando em bandos orientados pela bússola do instinto que fixa o caminho na lousa invisível do infinito céu. Apenas homens, mulheres à procura do seu destino. Seja lá onde for, seja como vier. Casual, mas não inconsequente. Assim.

sábado, 10 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Quando a verdade se impõe

Texto maravilho que saiu hoje na Folha de São Paulo por este personagem impar do cenário brasileiro.

Estou no Rio, em meu apartamento em Ipanema, alheio à agitação que hoje, 31 de dezembro, afeta toda a cidade. Recebo, pelo telefone, o abraço de fim de ano de meu amigo Renato Guimarães, lembrando-me, com entusiasmo, do livro sobre Stálin que, meses atrás, lhe emprestei. Uma obra fantástica do historiador inglês Simon Sebag Montefiore, sobre a juventude de Stálin, que tem alcançado enorme sucesso na Europa, reabilitando a figura do grande líder soviético, tão deturpada e injustamente combatida pelo mundo capitalista.

E fico a pensar como essa publicação me chegou às mãos por um amigo, o arquiteto argelino Emile Schecroun, que hoje reside na capital francesa. E vale a pena comentar um pouco da vida desse querido companheiro, que, ao ter início a luta entre a França e a Argélia, deixou o PCF em Paris, onde vivia, para filiar-se ao partido comunista argelino e combater no seu país de origem, ao lado de seus irmãos, por sua libertação. E contar como sua mulher foi torturada e ele, um dia, preso e enviado sob algemas para a França.

Duas ou três vezes por ano Emile vem ao Rio me ver. Quer falar de política, lembrar dos velhos camaradas de Paris. Às vezes eufórico, contente com o que vai acontecendo pela Europa; outras, como na última ocasião em que me visitou, preocupado com a crise que envolve o PCF, na iminência de ter que alugar um andar da sede que projetei. Tentei intervir, propondo uma entrada independente que servisse de acesso aos que vão utilizar aquele pavimento... Mas logo meu amigo reage, certo de que a situação política tende a melhorar, de que os jovens da França continuam atentos ao que passa pelo mundo, prontos a protestar contra tudo o que ofende a dignidade humana.

E volto a lembrar daquele livro, a figura de Stálin ainda muito jovem, sua paixão pela leitura, o seu interesse nos problemas da cultura, das artes e da filosofia, sempre a cantar e dançar alegremente com seus amigos.

É claro que a juventude russa já sofria a influência de escritores como Dostoiévski, Tolstói e Tchecov, a protestar contra a miséria existente, revoltados com a violência do regime czarista. Muitos, a exemplo de Dostoiévski, enviados para a prisão na Sibéria, onde durante anos ficaram detidos. Depois, como tantas vezes ocorre, a vida a levar o jovem Stálin à luta política, que, apaixonado, o ocupou até a morte.

E o livro relata as prisões sucessivas que ocorreram em plena juventude, as torturas que presenciou, enfim, tudo que marcou a sua atuação heroica na luta contra o capitalismo.

Ponho-me a folhear a obra, surpreso em constatar que o seu autor, depois de enorme pesquisa que se estendeu a arquivos da Geórgia, somente há muito pouco tempo franqueados a pesquisadores, levantou informações inéditas importantes sobre a vida de Stálin.

É bom lembrar que não se trata de autor de esquerda, mas de alguém que, pondo de lado suas posições político-ideológicas, soube interpretar uma juventude diferente, marcada pela inquietação cultural, que levou Stálin à posição de revolucionário e líder supremo da resistência contra o nazismo. Muito animado, Renato me diz que, seguindo a linha política de sua editora, esse vai ser um dos livros que com o maior interesse irá publicar.

A tarde se estende lentamente. Em breve o povo estará nas ruas a cantar -alguns esquecidos de que a miséria em que tantos vivem não se justifica, outros, como nós, confiantes em que um dia o mundo será melhor.

OSCAR NIEMEYER, 101, arquiteto, é um dos criadores de Brasília (DF). Tem obras ficadas na Alemanha, na Argélia, nos EUA, na França, em Israel, na Itália e em Portugal, entre outros países.

Bibliotecário lida com gestão da informação

Bibliotecário lida com gestão da informação

Setor privado e bibliotecas universitárias são os campos que mais empregam esse profissional

Fonte: Folha, Caderno FOVEST 30 dez. 2008

Livros, jornais, revistas, internet. É cada vez maior o volume de informações produzido e difundido pela sociedade. No contexto das novas tecnologias, em que o conhecimento está em todo o lugar, como tornar a informação confiável e útil para as pessoas? Esse é o desafio do bibliotecário, profissional que há tempos não está mais restrito às bibliotecas.

"O bibliotecário trabalha com o processamento da informação. Então, em qualquer lugar em que isso seja importante, é possível a atuação desse profissional", afirma a presidente do CFB (Conselho Federal de Biblioteconomia), Nêmora Rodrigues.

Segundo ela, além de espaços mais tradicionais, como bibliotecas públicas e escolas, é comum o trabalho dos bibliotecários em empresas, escritórios de advocacia, agências de publicidade e centros de informação e documentação.

Emília da Conceição Camargo, bibliotecária há mais de 25 anos, gerencia há nove o centro de informações do grupo Totalcom, formado por empresas do ramo publicitário.

Com uma equipe multidisciplinar, ela trabalha com coleta, seleção, análise e tratamento de dados sobre o mercado de publicidade. É a partir desses levantamentos que a empresa monitora e planeja novos negócios -razão pela qual o bibliotecário tem importância estratégica para decisões da empresa. "Hoje, nenhum lugar vive sem gestão da informação."

A atividade é exclusiva do bacharel em biblioteconomia -atualmente, existem 41 cursos no país, a maior parte deles nas capitais.

De acordo com o conselho do setor, formam-se, por ano, cerca de mil profissionais em todo o Brasil, número que, para Nêmora Rodrigues, é pequeno para a demanda do mercado.

"Todo o interior dos Estados está descoberto. Só as universidades já absorvem uma quantidade grande de profissionais", exemplifica.

Não há piso nacional para a categoria. Em São Paulo, o salário inicial é de R$ 1.450 por mês. Segundo o Conselho Regional de Biblioteconomia do Estado, a remuneração média está entre R$ 3.000 e R$ 5.000 -alguns profissionais chegam a receber R$ 13 mil.

Formação generalista

Para um campo de trabalho tão abrangente, é importante que o profissional tenha contato com outras áreas do conhecimento. Por isso, a formação do bibliotecário é generalista. Administração, lingüística, sociologia e filosofia são algumas das disciplinas que compõem o currículo básico do curso.

Ao lado de matérias específicas e técnicas da área, como documentação, indexação e planejamento bibliotecário, o aluno é incentivado a fazer disciplinas optativas e eletivas -modalidades oferecidas em outros cursos.

Como o bibliotecário deve estar preparado para se adaptar a diversos ambientes e tipos de informação, características como flexibilidade, iniciativa, criatividade e vontade de aprender são desejáveis para quem quer ingressar na carreira. "Para lidar com informação é importante gostar de garimpar, ser antenado e ter "espírito obreiro'", afirma Emília Camargo, que diz não ter dificuldade em selecionar estagiários nessa área.

"O mais difícil é a flexibilidade, para se adaptar às novas possibilidades de trabalho. Mas os jovens levam vantagem [nesse aspecto]", diz.

Outras habilidades úteis para a profissão são o interesse pelas novas tecnologias e o conhecimento de línguas estrangeiras.

Aluna do 4º período de biblioteconomia na Unesp, em Marília (435 km de São Paulo), Laura Inafuko, 19, acredita que uma formação cultural sólida é fundamental para a profissão. "É muito importante ter uma base para conhecer e atender bem ao usuário", diz. Ela faz estágio na universidade -o segundo na área- e acha que a carreira é promissora: "O mercado está em todo lugar".