terça-feira, 28 de julho de 2009

O que dá alma ao ser humano

O que dá alma ao ser humano

O livro, companheiro há mais de 2 mil anos, expressa nossa personalidade, hábitos, paixões, gostos e interesses

Fonte: O Estado de S.Paulo, www.mariaignezbarbosa.com

- Receita para a alma. Esta é a frase que se lê na inscrição que bravamente resiste ao tempo, na entrada da biblioteca do Templo de Trajano, em Roma. Não seria portanto sem sentido dizer que uma casa sem livros é uma casa sem alma. E, mais do que qualquer outro ambiente na casa, será a biblioteca - ou o lugar escolhido para os livros - o que melhor vai expressar a personalidade de seus ocupantes. Estarão ali revelados seus gostos, interesses, preferências, hábitos e paixões.

Não importa que estejamos na era digital, que hoje o livro possa ser escutado e que a informação nos chegue pela internet. O fato é que o livro, ou o chamado codex (era assim que se dizia no mundo antigo), que nasceu há 2 mil anos, ou mesmo antes de Cristo, sob a forma de folhas de pergaminho recortadas, escritas por um escriba e costuradas a mão, e que, em 1450, na Alemanha, quando Gutenberg inventou a impressora, passou a ser produzido de forma menos artesanal, não vai sair tão cedo de nossas casas e muito menos de nossas vidas. E como declarou a escritora Frances FitzGerald, "o livro a gente leva para a cama, mas o CD não".

O hábito da leitura silenciosa teria se popularizado no tempo dos romanos. E, de coisa elitista no século 18 - nenhum gentleman que se prezasse dispensava uma biblioteca em casa com livros belamente encadernados - a artefato cultural com variados significados democratizado no século 19 e beneficiado pelos avanços tecnológicos nos 100 anos seguintes, o livro continua entre nós, presente como nunca, sendo editado aos borbotões, acessível como jamais foi e seduzindo cada vez mais gente.

É sem dúvida um dos mais fiéis companheiros do homem. Quantos de nós não o temos como aliado em noites de insônia, em longas viagens de avião, na simples solidão? Mais do que ler e aprender, ele pode nos ligar com o passado, nos fazer viajar por outros mundos, escapar para novos universos, acender luzes internas. Um bom livro pode nos seguir pela casa, até a cozinha, no banheiro, à mesa de jantar.

Há quem diga que os livros nos escolhem. Nicolas Barker, filho de um professor universitário na Inglaterra e que em pequeno gostava de brincar na Cambridge University Press, conta que, sempre que lhe perguntam se coleciona livros, responde: "Não, os livros é que me colecionam". E mesmo que possa não ser a forma mais agradável de leitura, quem não vai adorar ser dono de uma primeira edição de um livro famoso ou predileto?

A paixão pelo livro tem história. Churchill, quando não tinha tempo para ler, se consolava passando neles a mão, sentindo-os na pele. O escritor A.L. Rowe dizia que a biblioteca de Churchill era "eloquente do homem", seu retrato perfeito, e que é possível "lermos" as pessoas através dos livros que elas leem.

Para muita gente, apenas o fato de possuir livros pode transcender o prazer de lê-los. Cheirá-los pode emocionar. E a arte de certas lombadas e encadernações pode encantar o olhar e o ego de seu dono. O filósofo Walter Benjamin acreditava que os livros têm um sentido simbólico que não depende necessariamente de sua utilidade, apesar de que sua utilidade é o que os torna realmente especiais. Num momento de mudança para uma nova casa, quando desembalava a biblioteca, teria comentado: "Há uma tensão dialética entre a ordem e a desordem".

LIVROS BRANCOS

Arrumar os livros numa estante pode ser de fato um drama na vida dos bibliófilos. Se por assunto, se por ordem alfabética, tamanho, cor, encadernação. É tarefa interessante e delicada para muito decorador. David Hicks dizia gostar de projetos que nunca terminam e que uma biblioteca é justamente isso. Está sempre em mutação. Nos anos 30, a decoradora americana Frances Elkins, para um look de efeito, gostava de encher as bibliotecas com livros brancos. Encapava os volumes de seus clientes com pergaminho, mas deixando, obviamente, uma abertura para os títulos.

Descubro que Keith Richards, dos Rolling Stones, é um apaixonado por leitura: "Depois de uma vida com o pé na estrada, a leitura hoje é o que me ancora". Há também quem declare, como o financista americano Victor Niederhoffer, que seria capaz de passar a vida inteira sem se chatear dentro da biblioteca da própria casa. E é conhecida a história do casal Clinton, que, quando foi morar na Casa Branca, logo notou que havia ali poucas estantes e comentou que, se o problema não fosse remediado, jamais se sentiria em casa na nova morada.

Segundo os aficionados, um dos prazeres do colecionador é encontrar um determinado livro na estante de um sebo ou livraria e "libertá-lo" para uma nova vida e utilidade - ou seja trazê-lo para a sua própria estante. Viver para e entre livros pode ser um prazer. Em Washington, lembro de um enorme galpão dedicado aos bibliófilos, onde era possível encontrar desde capas para proteção da dust jacket em todos os tamanhos possíveis, o sabão correto para a limpeza, esparadrapos especiais, removedores de manchas, antissépticos, cordas, folhas, material para encadernação e o que se puder sonhar para melhor preservar nossos livros.

Talvez pouca gente saiba que o fato de muitas editoras francesas, como a Gallimard, por exemplo, ainda publicarem seus livros com o velho modelo de capa branca, onde apenas o título varia, é porque não abandonaram a tradição de tê-las simples, uma vez que antigamente a maioria dos livros com capa mole seria depois encadernada por quem quisesse preservá-los.

A forma como é tratado, disposto ou manuseado, daria ao livro qualidade humana. Ao acumulá-los, o colecionador compulsivo ou leitor apaixonado acabará, mesmo que sem querer, criando com eles bookscapes, ou seja, pequenas ou grandes paisagens em qualquer canto da casa. Poderão surgir empilhados sobre cadeiras ou bancos, em mesinhas perto da poltrona de leitura, ou da cama, aguardando a vez de serem lidos; no interior de lareiras ou sobre suas bancadas, subindo os degraus das escadas junto à parede, em estantes dividindo ambientes, dentro de cestos, no lavabo e na cozinha. Mesmo que bagunçados ou empoeirados, mal não há de nos causar à vista. Serão sempre uma edificante e prazerosa companhia.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Conversando com Ferreira Gullar

Muito já postei alguns textos sobre a discussão do movimento antipsiquiatrico e sobre a lei da reforma psiquiátrica, com visões de todos os lados (inclusive as minhas), sobre os a favores e os contras. Nesta quinta, o psicanalista e colunista com caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, Contardo Calligaris  traz mais uma vez o assunto a toma, no qual ele comenta duas colunas do também colunista da Folha, Ferreira Gullar.

Pra quem quiser saber mais sobre o movimento antipsiquiatrico, ocorrido no século XIX vale a pena dar uma lida em alguns dos trabalhos do filosofo Foucault, no qual destaco a “Historia da Loucura” e “Arqueologia do Poder”.

Abs.

Conversando com Ferreira Gullar

"A antipsiquiatria liberou os psiquiatras da função de guardiões da "normalidade" "

CONTARDO CALLIGARIS, 23 jul. 2009

EM 12 e 26 de abril, nesta página, Ferreira Gullar escreveu contra a lei da reforma psiquiátrica (lei 10.216, de 2001). Na época, muitos leitores pediram que me expressasse sobre o tema. Visto que Ferreira Gullar voltou ao assunto no domingo passado, aproveito a ocasião. A lei é dificilmente discutível em suas intenções. Seu texto (link no fim) garante os direitos do portador de transtornos mentais e, em particular, o direito ao melhor tratamento possível, afirmando que a internação deve acontecer quando "os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes" e que qualquer tratamento deve visar "a reinserção social do paciente".

Como discordar? Não decorre do texto de lei nem que se acabe de vez com a internação psiquiátrica nem que se estabeleça um limite abstrato ao tempo de internação (o qual, Gullar tem razão, só pode ser "o tempo necessário", e não um lapso arbitrário). Em suma, o problema não é a lei, mas sua implementação em curso (disposições e meios concretos).

Na minha história, o movimento antipsiquiátrico (que nasceu, emblematicamente, em 1968, com "A Instituição Negada", de Franco Basaglia, ed. Graal) foi um marco contraditório.

Eu fui conquistado pelas implicações ideais do movimento (o direito de ser radicalmente diferente sem ser confinado por isso, a descoberta de que as instituições e a sociedade podem ser patogênicas a ponto de nos enlouquecer, o esforço para reconhecer a loucura na "normalidade" de nossa vida coletiva e para enxergar o semelhante no louco).

Mas nunca consegui acreditar que a doença mental fosse só a consequência da própria exclusão dos pacientes, e, ainda menos, que todo ato terapêutico fosse necessariamente uma tentativa de enquadrar os "dissidentes" mentais. Tampouco conseguia imaginar que, depois da "revolução" (iminente, é claro), viveríamos num mundo sem doença e sem sofrimento mentais.

Gullar tem razão, o movimento antipsiquiátrico (mas não a lei 10.216) acarretou consigo uma negação da doença mental. Atribuir o sofrimento dos pacientes à repressão manicomial de sua diferença era uma ingenuidade que só se explica considerando o seguinte: o movimento antipsiquiátrico foi, antes de mais nada, um movimento de liberação dos próprios psiquiatras, que se recusaram a continuar exercendo uma função de carcereiros e guardiões da "normalidade". Foi, em suma, a rebelião dos psiquiatras contra uma psiquiatria que era, com frequência, estupidamente convencida de que curar os pacientes significasse conformá-los com o preconceito dos terapeutas e da sociedade.

Coisa do passado? Nem tanto. Ainda hoje, uma psicóloga pode querer "curar" a homossexualidade de seus clientes (Folha, 14/07), ou seja, erigir suas ideias (legítimas, aliás) sobre a "normalidade" social ou sexual em critério da "doença" ou do transtorno, desconsiderando o único critério que importa: o sofrimento singular do paciente e sua queixa.

Agora, Gullar, para defender o valor da internação, evoca o exemplo de Emygdio de Barros, que se realizou como pintor nos ateliês de Terapêutica Ocupacional organizados por Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico Nacional. Quem dera! Raramente o manicômio ordinário foi lugar de cura e amparo; em geral, ele foi lugar de transformação de doenças agudas (eventualmente temporárias) em doenças crônicas incuráveis. Nisso, ele se parecia com um hospital geral no qual, pela acumulação de germes resistentes, morrer de uma infecção hospitalar seria mais fácil do que se curar.

Enfim, a implementação da reforma psiquiátrica mal começou. Concordo com Gullar: ela deve incluir a possibilidade de internação em hospital público -com uma transformação radical dos lugares de internação. Essa transformação é impossível sem fechar hospitais irrecuperáveis e, sobretudo, sem uma redefinição dos cuidados em saúde mental.

Ora, contrariamente às minhas próprias expectativas (que eram pessimistas), o trabalho dos atuais Centros de Atenção Psicossocial tem sido humilde e grandioso. Neles, a cada dia, contra trancos e barrancos, a grande maioria dos profissionais de saúde mental está resgatando a dignidade de sua missão. E quem sabe esse resgate de hoje permita também que tenhamos, um dia, hospitais psiquiátricos em que Emygdio, se estivesse vivo, estaria a fim de instalar seu ateliê.

O texto da lei está disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm

ccalligari@uol.com.br

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A biblioteca de cada um, depoimento de Antônio Cândido

Fonte: CÂNDIDO, Antônio. Depoimento. A biblioteca de cada um. Palavra Chave, São Paulo, n.1, p.6, maio 1982

Antônio Cândido,  professor universitário

"Em nossa casa havia a boa biblioteca de meus pais. Morávamos no interior de Minas e desde pequeno me habituei a lidar com aqueles livros, mesmo antes de os ler. Meu pai era médico e extremamente culto. Quando freqüentou o ginásio do Estado em campinas, até 1903, comprou muito livro na excelente Casa Genoud. Depois continuou a comprar no Rio, onde se formou, e na Europa, onde fez entre 1911 e 1912 um primeiro estágio de aperfeiçoamento e onde sempre teve um livreiro correspondente, que fazia a assinatura de revistas e a remessa de livros encomendados por catálogo.

Além da medicina predominante, havia filosofia, história, literatura, política, estudos sociais. Sem contar que minha mãe tinha os seus livros próprios, onde avultavam biografias, memórias, diários, correspondências (Quando li mais tarde o verso para alguns misterioso de Manuel Bandeira - 'Abaixo Amiel e nunca lerei o diário de Maria Bashkirtsef' - fiquei à vontade, porque em casa ambos eram lidos e comentados).

Outra biblioteca particular que me valeu muito (depois de 1930) foi a de minha grande professora Dona Maria Ovídia Junqueira, que me orientou para certos clássicos da juventude e diversos autores ingleses, inclusive Shakespeare, cuja obra possuía numa bela edição em 15 ou 16 pequenos volumes. Como em nossa casa dominavam os livros franceses, foi uma experiência nova e estimulante a familiaridade com aqueles livros diferentes, cartonados, e sua sobrecapas coloridas.

Quanto a bibliotecas públicas, a primeira que freqüentei foi a Municipal de Poços de Caldas (onde moramos a partir de 1930). Ocupava uma sala da Prefeitura e tinha uma bibliotecária encarregada sobretudo de outras tarefas burocráticas; de modo que me confiavam a chave e eu ficava só, - porque não me lembro de ter visto outro consulente entre 1932 e 1934. Aí, precisaram instalar na sala um desenhista de obras públicas e as consultas foram suspensas.

Essa biblioteca era notável e tinha pertencido a um médico ilustre, de imensa cultura, até hoje o homem de maior relevo que a cidade teve; Pedro Sanches de Lemos. Além de medicina, havia nela coleções de filosofia, psicologia, história, sociologia, antropologia, política, literatura, muitas com uma bela encadernação especial trazendo as iniciais do possuidor. Ele morrera fazia mais de vinte anos, mas naquela altura a biblioteca, doada pela família, ainda estava mais ou menos intacta. Deveria ter sido iniciada nos anos de 1870 e continha o que se poderia querer de melhor (Pedro Sanches de Lemos aparece transposto para a ficção como o Dr. Lino, em Água de Juventa, de Coelho Neto).

Quando vim para São Paulo, em 1936, freqüentei duas bibliotecas. Na antiga Municipal, Rua Sete de Abril, entre outras coisas li os clássicos gregos em traduções francesas que já tinha folheado na de Poços de Caldas. Na da Faculdade de Direito, lembro que travei conhecimento sistemático com a crítica francesa tradicional: Saint-Beuve, Taine, Brunetière, Faguet e outros.

Na da Faculdade de Filosofia, onde primeiro estudei e depois ensinei, num total de trinta e nove anos, li intensamente a partir de 1939 filosofia, sociologia, história e literatura, em especial nos livros da excelente doação feita pelo governo francês em 1934. Depois de 1944 lidei na coleção Lamego, para o preparo de uma tese e a seguir do meu livro Formação da Literatura Brasileira. Com o mesmo fim trabalhei durante anos na nossa Municipal (já na Consolação) e na Nacional do Rio, sobretudo nas respectivas secções de Livros Raros. Em São Paulo, com o gentil auxílio das bibliotecárias Dona Rose e Dona Augusta.

E aí estão as bibliotecas que me ajudaram mais nos períodos decisivos para a vida mental. Só mais tarde freqüentei algumas monumentais, no estrangeiro."

Um pouco de Machado

"... Deus é o poeta. A música é de Satanás, jovem maestro de muito futuro, que aprendeu no conservatório do céu."

Desabafo do tenor Marcolini, personagem de Dom Casmurro, Machado de Assis

 

 

Biblioteca Mário de Andrade organiza palestras sobre os livros do vestibular 2010

Biblioteca Mário de Andrade organiza palestras sobre os livros do vestibular 2010

Fonte: http://blog.estadao.com.br/blog/pontoedu/

A Biblioteca Mário de Andrade vai realizar, a partir de 8 de agosto, um ciclo de palestras gratuitas sobre os livros cobrados nos vestibulares deste ano da USP, Unicamp e PUC-SP.

As palestras serão ministradas por professores da graduação da PUC e realizadas sempre aos sábados na sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000), a partir das 10h30.

Não é necessário se inscrever para assistir as palestras, só é preciso chegar com meia hora de antecedência. A sala tem capacidade para 300 pessoas.

Confira a programação:

Agosto:

8/8 - Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida 15/8 - Dom Casmurro, de Machado de Assis

29/8 - Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

Setembro:

12/9 - O Cortiço, de Aluizio de Azevedo

19/9 - Iracema, de José de Alencar

26/9 - A Cidade e as Serras, de Eça de Queiróz

Outubro:

17/10 - Vidas Secas, de Graciliano Ramos

24/10 - Antologia Poética, de Vinícius de Morais

31/10 - Capitães da Areia, de Jorge Amado

Mais informações no site da Biblioteca Mário de Andrade ou pelo telefone (11) 3241 3459.

Casos de família!

Diálogos gravados pela PF ligam Sarney a Agaciel e atos secretos; veja trechos da conversa

da Folha Online

Diálogos gravados pela Polícia Federal com autorização judicial, durante a Operação Boi Barrica, mostra a prática de nepotismo pela família Sarney no Senado e liga o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), ao ex-diretor-geral Agaciel Maia e aos atos secretos, segundo reportagem publicada hoje pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

Em um dos diálogos, o empresário Fernando Sarney, filho do senador, diz à filha, Maria Beatriz Sarney, que mandou Agaciel reservar uma vaga para o namorado dela, Henrique Dias Bernardes.

Segundo a gravação, o senador José Sarney se compromete a falar com Agaciel para sacramentar a nomeação. O namorado da neta foi nomeado oito dias depois, por ato secreto.

Leia trechos da conversa, divulgados pela reportagem do jornal:

Maria Beatriz telefona para o pai, Fernando Sarney:

Bia Sarney - Hein, pai, deixa eu perguntar uma coisa. Meu irmão saiu do Senado, . Vai sair a exoneração amanhã. Ele arranjou um emprego melhor. Até ganha menos, mas pra carreira dele é melhor. Aí ele resolveu sair, . Aí você acha que dá pro Henrique entrar na vaga dele ou não?

Fernando Sarney - Podemos trabalhar isso, sim.

Bia - A exoneração dele vai sair amanhã.

FS - Não, dá sim, mas amanhã de manhã cedo tu tem que me ligar, pra eu falar com o Agaciel. E passar um e-mail pra mim cedo, com o nome do Bernardo e do Henrique.

Bia - Ah, . Pra passar um e-mail e ligar.

FS - É. O e-mail você já pode fazer hoje. Passa hoje, mas me liga cedo. Ou você bota o Henrique pra me ligar, alguém...

Bia - . Então passa o e-mail e te liga, ?

FS - Isso.

Bia - . Eu acho que a exoneração dele já sai amanhã.

FS - bom. Aí eu falo com o Agaciel. Eu falo, quem sabe dá certo...

Bia - , porque parece que o Bernardo falou que assim que ele disse que ia sair todo mundo já queria colocar alguém. Só que daí ele falou que um monte gente tentou, mas não deu. Mas também é porque a vaga acho que era da presidência, , não sei.

FS- ok.

Bia - Então, mesmo as pessoas que tentaram não conseguiram ainda não... É por isso que eu sei que ainda vago...

FS - Certo.

Bia - Então pai...

FS - bom.

Em outra conversa, Aluísio, o ajudante de ordem do senador José Sarney liga para Fernando e repassa o telefone para Sarney:

FS - Oi.

Aluísio - Fernando, Aluísio.

FS - Diga, Aluisinho.

Aluísio - tentando falar contigo. Seu pai quer falar com você sobre aquele assunto. Só um minutinho.

(Passa o telefone para Sarney)

Sarney - Alô.

FS- Benção, pai.

Sarney - Deus lhe abençoe. Olha, você não tinha me falado o negócio da Bia...

FS - Não, não, ela falou comigo sexta-feira.

Sarney - Mas ele (Bernardo, o irmão de Bia que deixaria a vaga no Senado) entrou logo com um pedido de demissão. Agora, pra... (é interrompido por Fernando)

FS - Eu falei com o Agaciel.

Sarney - Já falou com o Agaciel.

FS - Eu falei, falei.

Sarney - .

FS - Pedi pro Agaciel segurar com ele. Agaciel com os dois currículos (do Bernardo e do Henrique) na mão dele, com tudo lá.

Sarney - bom. Eu vou falar com ele.

FS - Eu preveni. É só isso aí. É isso que eu queria. Que tu desse uma palavrinha com ele (Agaciel). Ela já sabendo, . Eu já... Se tu der resolve.

Sarney - Agora, ontem... saiu a... ontem foi assinado o negócio da TV de Estreito, a repetidora.

FS - Foi?

Sarney - É.

FS - Beleza, ótimo. Isso é uma boa notícia.

Sarney - bom.

FS - Ótima notícia, , paizão, obrigado.

Sarney - , Deus te abençoe. Um beijo.

FS - Um beijo pra ti.

E adivinha pra quem vai sobrar???

Pro namorado da filha que vai ser demitido.....pode uma coisa dessa???

quarta-feira, 22 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

José!

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse....

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja do galope,

você marcha, José!

José, para onde?

Já que é um imortal, o Sarney bem que podia aproveitar “graças a Deus” o inicio do recesso parlamentar e colocar a leitura em dia.....algo me diz que Carlos Drummond já desconfiava de lago!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A angústia de um prefeito

A angústia de um prefeito

por Daniel Piza, http://blog.estadao.com.br/blog/piza/

O que diria Graciliano Ramos ao ver Lula e Collor sorrindo abraçados em Palmeira dos Índios? E ao ouvir o presidente dizer que não se pode governar por compadrio? O autor de Vidas Secas foi prefeito da mesma cidade alagoana durante dois anos, 1928 e 1929, e sobre esse período escreveu relatórios administrativos que, por seu artesanato verbal, dispensam qualquer modorra de burocracia. Já reunidos em livro, são parte integrante de sua grande obra.

Um deles dizia: “Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restaram poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem com suas obrigações e, sobretudo, não se enganam nas contas. Devo muito a eles.” E: “Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta.”

O discurso é parecido, embora muito mais mal escrito, mas a diferença está na ação. Collor, afinal, é agora um nome-chave de Lula na CPI da Petrobras, como Sarney tem sido fundamental para o acordo entre PT e PMDB para o apoio a Dilma Rousseff. Ambos representam a oligarquia que impera na máquina pública em todos os níveis e que Graciliano criticou nos relatórios e em obras como São Bernardo. Ele certamente não aprovaria o compadrio com esses dois poderosos clãs regionais.

Ao ser informado dos atos secretos do Senado, talvez repetisse: “Há quem não compreenda que um ato administrativo seja isento de lucro pessoal.” Não compreenderia os cargos distribuídos a genros, mordomos, motoristas, netos; as verbas desviadas para uma fundação cujo estatuto contradiz a autoridade; os enganos nas próprias contas. Compreenderia menos ainda a complacência a tais práticas sob alegação de que são feitas por homens incomuns, acima do bem, do mal e das leis.

Graciliano não era de mensalões, de jardins, de Delúbios e PC Farias; era o contrário disso tudo. Foi prefeito tão correto que se viu obrigado a renunciar. Melhor para a literatura, que ganhou romances como Angústia. Pior para a política, cujas cenas não provocam outro efeito senão o que descreve a mesma palavra.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Enquanto fazemos poesia

Enquanto fazemos poesia

"Partir quer dizer dividir em partes: é da noção de separação que vem o sentido de ir embora"

ANTONIO CICERO, sábado na Folha 

UMA VEZ PARTICIPEI de uma mesa redonda em Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, em que se discutiu a proposição "Enquanto fazemos poesia não partimos". Trata-se de uma sentença de Hermann Broch, que se encontra no romance "A Morte de Virgílio". Mas ela foi apresentada descontextualizada, de modo que cada qual podia interpretá-la como quisesse. O importante era que essa interpretação pessoal revelasse algo da concepção de poesia de cada um. Foi, de fato, o que ocorreu.

Quanto a mim, concordo com a tese de que "enquanto fazemos poesia não partimos". No contexto em que essa frase se encontra, percebe-se que Broch lamentava o fato de não partirmos quando fazemos poesia, como se dissesse: "Quando fazemos poesia, não chegamos a partir". Pois bem, ao contrário dele, penso que o fato de não partir é exatamente o que faz da poesia o que ela é: uma das dimensões insubstituíveis e, segundo penso, supremas, da experiência humana. Na verdade, creio que não é somente quando fazemos poesia, mas, principalmente, quando a lemos, que não partimos.

Partir quer dizer dividir em partes, separar as partes: e é da noção de separação que vem o sentido de ir embora. Pois bem, para que o juízo, isto é, o conhecimento humano discursivo, dianoético, seja possível, é necessário, em primeiro lugar, que o sujeito (que julga) e o objeto (sobre o qual se julga) tenham sido separados. No próprio objeto, é preciso também que o sujeito tenha sido separado de suas propriedades e relações etc. Ora, muito sucintamente, essas separações são condições para que possamos conhecer e instrumentalizar o mundo dos objetos. Através da partida, portanto, todos os entes se tornam objetos para o sujeito que conhece.

De certo modo, também o poema consiste num objeto artificial. Não se trata, evidentemente, de um objeto artificial material, como a folha de papel sobre a qual ele se encontra escrito, mas de um objeto formal, de um objeto-tipo, como uma palavra. É assim que, como uma palavra, ele pode encontrar-se em diferentes meios ao mesmo tempo: nos vários exemplares de um livro, em revistas, em computadores, na internet, em gravações sonoras etc.

A mais importante característica a distinguir esses dois tipos de objetos artificiais de caráter formal que são as palavras e os poemas parece-me ser o fato de que, ao contrário de uma palavra, um poema enquanto poema não desempenha qualquer função sintática ou semântica na língua a que pertence. Na verdade, o poema enquanto poema é um objeto artificial de caráter formal desprovido de qualquer função determinada. Ora, um objeto destituído de função determinada é, literalmente, um objeto que não serve para nada.

Normalmente, não damos atenção a objetos que não servem para nada. Por que damos atenção a um poema enquanto poema? Coube a Kant responder a essa pergunta, descrever a beleza como uma finalidade sem fim. O poema enquanto poema é um objeto no qual reconhecemos a forma da finalidade sem, entretanto, reconhecermos o fim, a função que daria o seu conceito. Por isso mesmo, o poema enquanto poema é um objeto que, como diz Kant das ideias estéticas, "constitui uma apresentação da imaginação que dá muita ocasião ao pensamento, sem que nenhum pensamento determinado, nenhum conceito, possa ser-lhe apropriado e que, consequentemente, não é completamente alcançável ou tornado inteligível por nenhuma linguagem".

Sob o domínio da imaginação, o poema provoca o que o autor de "A Crítica do Juízo" chama de livre jogo entre as faculdades do conhecimento: trata-se de um objeto da língua ao qual voltamos, não por razões pragmáticas, mas estéticas, como voltamos a contemplar um quadro ou uma escultura.

Mas um poema é um objeto especial também em outro sentido, evidentemente ligado a esse primeiro. Ocorre que ler um poema é como mergulhar nele em pensamento. O poema é objeto e pensamento ao mesmo tempo. E, ao contrário do que ocorre nos não poemas, no poema não é possível separar o objeto do pensamento ou do sujeito do pensamento. Aquilo que pensa no poema é também a sua materialidade linguística: não apenas os seus significados convencionais, mas os seus significantes: e os significados não se separam, no poema, dos significantes. Nada, nele, se separa de nada; nada se parte; nada parte.

É nesse sentido que eu diria que, enquanto fazemos ou lemos poesia, não partimos.

Resmungo teológico

Resmungo teológico

"Relendo meu próprio artigo, perguntei-me: o que se ganha em negar a existência da alma?"

FERREIRA GULLAR, domingo na Folha

EMBORA DEFIRA DO biólogo Richard Dawkins que, nesta semana, na Flip, alardeou seu ateísmo, eu, em meio aos meus costumeiros resmungos, pus em dúvida aqui a existência da alma, chegando mesmo a lembrar que, em certa época remota, os gregos a designavam pela palavra "pneuma", que significa ar, sopro, ou seja, a respiração de quem está vivo. Nada mais que isso. Fiz essa afirmação, meses atrás, a propósito da excomunhão dos médicos que praticaram aborto numa menina, estuprada pelo padrasto. Como, para a Igreja Católica, a alma já está no momento da fecundação, praticar o aborto é matar um ser humano, dono de uma alma divina.

Afirmei, por isso, que, para ela, o que importa não é a vida e, sim, a alma, razão por que, durante a Inquisição, condenou à morte, na fogueira, milhares de pessoas, para salvar-lhes a alma.

Tem lógica mas, relendo o meu próprio artigo, perguntei-me: o que se ganha em negar a existência da alma? Pergunta essa que, feita por mim, pode surpreender o leitor.

É que me lembrei de que não foi a Igreja Católica quem inventou a alma. Os gregos, muito antes de Sócrates e talvez mesmo de Pitágoras, já a tinham

inventado, sem falar nos egípcios, que acreditavam numa vida post mortem, mas com o corpo também e, por isso, faziam-se embalsamar. Os cultos órficos da Grécia pré-helênica fundavam-se na crença da transmigração das almas que, no além, poderiam ser premiadas ou punidas pelo que fizeram aqui em baixo. Inscrições descobertas em sepulturas daquela época contêm ensinamentos de como a alma do morto deveria se comportar para merecer a salvação.

Num desses textos, lê-se o seguinte: "Tu acharás, à esquerda da casa de Hades, uma fonte e, a seu lado, um cipreste branco. Dessa fonte, não te aproximarás, mas te depararás com uma outra, perto do lago da Memória. Diz: "eu sou filho da terra e do céu estrelado'". É que para eles, o corpo vinha da terra e a alma, do céu.

Essa visão do homem como ente, ao mesmo tempo, terrestre e celeste, irá ganhar consistência teórica na filosofia de Sócrates e, sobretudo, na de Platão. Pode-se supor que a admirável bravura e despreendimento daquele em face da morte, deve-se, de fato, à sua convicção de que, depois dela, havia outra vida e melhor.

Se Platão herda de Sócrates essa convicção, em sua teoria a existência da alma está essencialmente ligada à possibilidade do verdadeiro conhecimento. Para ele, o corpo era um fator que impedia de se conhecer a verdade, não facultada aos sentidos. Pelo contrário, na sua concepção, os sentidos nos iludem, induzindo-nos a uma visão imperfeita da realidade. Donde a conclusão de que, só depois que nos livramos do corpo, podemos apreender a verdadeira realidade da existência, a que apenas a nossa alma teria acesso.

Essa concepção platônica da alma influiu na visão do cristianismo e, consequentemente, na teologia da Igreja Católica.

Mas, até onde me é dado perceber, elas não são idênticas em todos os pontos, especialmente em um: enquanto na teoria platônica o que há de reprovável no corpo é sua incapacidade de apreender o verdadeiro conhecimento, na teologia católica, essa incapacidade se converte em pecado, isto é, o corpo, sujeito a desejos condenáveis, contamina a alma de pecados, que podem levá-la à perdição eterna. Nisto, a concepção católica parece mais próxima do orfismo que do platonismo, mais filosófico do que teológico.

Mas meu propósito aqui não é discutir essas questões e, sim, afirmar que, na dúvida de que a alma exista ou não, melhor será acreditar em sua existência do que negá-la, já que não há como provar uma coisa nem outra.

Negamos a alma porque somos herdeiros do progresso econômico e científico, que nos revelou a lógica material da natureza e da vida, e que é irretorquível. Não obstante, a própria ciência diz que não é capaz de responder a questões como esta: por que existe algo em vez de nada? Assim, o enigma da existência continua sem resposta.

Não fui eu mesmo quem disse que o homem inventou Deus para que este o criasse? Ele o inventou porque não quer ser igual a um simples animal, nascido da natureza, condenado a acabar para sempre. Se sou filho de Deus, tenho uma alma divina que me torna imortal. E é isso, essa capacidade de inventar-se, que nos distingue dos outros animais. Filho de Deus mesmo ou inventado por si mesmo, a verdade é que o homem necessita da transcendência e aspira à eternidade. Por isso, precisa da alma, uma vez que o corpo, após a morte, virá pó.

Pessoal, este papo está brabo demais! Vamos mudar de assunto?

Formado em bibliotecas, escritor paga sua dívida

Formado em bibliotecas, escritor paga sua dívida

Por JENNIFER STEINHAUER, ontem na Folha de São paulo

Quando alguém que está perto de fazer 90 anos já escreveu dezenas de romances, contos e roteiros de filmes famosos e realizou seu objetivo de fazer uma viagem simulada a Marte, o que falta fazer?

"Bo Derek é muito minha amiga, e eu gostaria de passar mais tempo com ela", diz Ray Bradbury sobre a atriz de Hollywood que apareceu em mais de duas dúzias de filmes desde o final da década de 1970.

Uma resposta improvável, mas Bradbury, escritor de ficção-científica, é muito específico em sua excêntrica lista de interesses e em como tenta concretizá-los em sua idade avançada e no estado de relativa imobilidade.

Isto é uma sorte para as Bibliotecas Públicas do Condado de Ventura, nos EUA -porque, entre as paixões de Bradbury, nenhuma é tão intensa quanto seu antigo entusiasmo por salas cheias de livros. Seu romance mais famoso, "Fahrenheit 451", que trata da queima de livros, foi escrito em uma máquina de escrever alugada no porão da Biblioteca da Universidade da Califórnia em Los Angeles; seu romance "Algo Sinistro Vem Por Aí" contém uma cena de biblioteca seminal.

Bradbury fala frequentemente em bibliotecas de toda a Califórnia e, no final de junho, esteve em Ventura para uma palestra beneficente para a Biblioteca H.P. Wright, que, como muitas outras do sistema público estadual, corre o risco de fechar as portas por causa do corte de orçamento.

"As bibliotecas me criaram", disse Bradbury. "Não acredito em colégios e universidades. Acredito em bibliotecas porque a maioria dos estudantes não tem dinheiro. Quando me formei no colégio, durante a Depressão [dos anos 1930], não tínhamos dinheiro. Eu não pude ir à faculdade, então fui à biblioteca três dias por semana durante dez anos."

Os dólares do imposto predial, que fornecem a maior parte do financiamento das bibliotecas no condado de Ventura, caíram precipitadamente, deixando o sistema de bibliotecas com um buraco de aproximadamente US$ 650 mil. Quase a metade dessa quantia é atribuída à Biblioteca H.P. Wright, que atende a aproximadamente 65% dessa cidade costeira a cerca de 80 km a noroeste de Los Angeles. Em janeiro, a Biblioteca Wright soube que, a menos que conseguisse US$ 280 mil, seria fechada.

O grupo que levanta fundos para a entidade tem até março de 2010 para atingir essa meta. A conversa com Bradbury custa US$ 25 por pessoa e inclui uma projeção de "The Wonderful Ice Cream Suit" (O maravilhoso traje de sorvete), filme baseado em seu conto de mesmo nome.

O objetivo financeiro do evento não é uma solução a longo prazo. Isso só aconteceria se os impostos territoriais fossem aumentados ou os eleitores aprovassem um aumento de meio centavo no imposto das vendas locais em novembro, parte do qual iria para as bibliotecas.

Ameaças fiscais às bibliotecas irritam profundamente Bradbury, que passa todo o tempo que pode conversando com crianças em bibliotecas e incentivando-as a ler. A internet? Não o provoque. "A internet é uma grande distração", bradou Bradbury em sua casa em Los Angeles. "É insignificante; não é real", ele continuou. "Está no ar, em algum lugar."

Quando não está angariando dinheiro para bibliotecas, Bradbury ainda escreve durante algumas horas todas as manhãs; lê George Bernard Shaw; recebe visitantes, incluindo repórteres, cineastas, amigos e filhos de amigos; e assiste a filmes em sua TV gigante de tela plana.

Ele ainda pode ser visto regularmente na Biblioteca Pública de Los Angeles, que visitou frequentemente na adolescência. "As crianças me perguntam:

'Como também posso viver para sempre?'", disse. "Eu lhes digo: façam o que vocês amam e amem o que fazem. Essa é a história da minha vida."

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dawkins: 'Não fosse Darwin, diria que Pantanal é obra de Deus'

Apesar de seu radicalismo em defesa de sua tese, não podemos deixar de concordar com ele.

Dawkins: 'Não fosse Darwin, diria que Pantanal é obra de Deus'

Biólogo que participa da Flip diz que falta de informação é um dos principais motivos dos que recorrem à fé

Fonte: Estado

O biólogo britânico Richard Dawkins disse hoje no Brasil, onde participa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que a religião "é a justificativa para fazer coisas terríveis, como assassinatos ou terroristas suicidas".

Dawkins, que participará esta tarde de uma das mesas-redondas da Flip, argumentou, no entanto, que não acha que as pessoas religiosas sejam "más" e qie "muitas de suas ações são motivadas pelo desejo de fazer o bem".

Autor de livros como "Deus, um Delírio" e "O Gene Egoísta", o cientista disse, em entrevista coletiva, que a falta de informação é um dos principais motivos para que as pessoas recorram à fé religiosa.

"Acabo de retornar do Pantanal e fiquei deslumbrado com tanta beleza", disse Dawkins, acrescentando que, "se não conhecesse Darwin, ajoelharia e diria que isso é obra de Deus".

Firme defensor das teorias evolucionistas e do livro "A Origem das Espécies", obra de Charles Darwin que este ano completa 150 anos, disse que este livro "é o mais importante da história, porque consegue resolver o maior mistério da vida: por que somos o que somos".

"É um livro que não foi devidamente reconhecido por causa da ignorância e porque a religião quer fornecer explicações preparadas para mentes mais ingênuas", acrescentou o cientista.

Dawkins, reconhecido ateu e humanista, lembrou sua recente participação em uma campanha a favor do ateísmo através de inscrições nos ônibus de Londres nas quais se podia ler "Deus provavelmente não existe. Então, pare de se preocupar e vá aproveitar sua vida".

Neste sentido, mostrou-se partidário em utilizar um termo mais "amigável" para definir os ateus e evitar "os preconceitos existentes".

Dawkins defendeu como uma possibilidade a palavra inglesa "bright", cuja tradução literal seria brilhante ou inteligente, e que já é utilizada por algumas correntes do ateísmo.

A sétima edição da Flip começou ontem e terminará no póximo domingo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um mito chamado infância...

Contardo Calligaris, hoje na Folha

Crianças fora da infância

CONTARDO CALLIGARIS           

"Amparamos as crianças, mas excluímos as que não têm como encenar um futuro feliz"

A FOLHA de 24 de junho (caderno Cotidiano) relatou uma estranha decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em Mato Grasso do Sul, em 2003, dois adultos, Zequinha Barbosa e Luiz Otávio F. da Anunciação, encontraram num ponto de ônibus, contrataram e levaram para um motel três moças que, na época, tinham 13, 14 e 15 anos. De uma delas, Anunciação tirou e armazenou fotos pornográficas.

Em 2004, em primeira instância, Barbosa e Anunciação foram condenados, respectivamente, a cinco e sete anos de reclusão. Recorreram e, no ano seguinte, foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça. Barbosa alegou que não participou do sexo, e Anunciação que ele não sabia que as garotas eram menores de 18 anos.

Foi a vez da Procuradoria recorrer, e a coisa chegou ao Superior Tribunal de Justiça, que decidiu assim: Anunciação é culpado por ter armazenado imagens pornográficas de uma menor, mas ele e Barbosa são absolvidos do crime de ter tido relações sexuais com menores. Por quê? Porque o Tribunal "considerou que não é crime manter relações sexuais com menores de 18 anos que sejam prostitutas". Ou seja, como não foram eles que "iniciaram" as meninas (ao sexo e à prostituição), eles não têm culpa.

Curiosa contradição: se não é crime transar com uma menor que já transou, não se entende por que seria crime tirar e armazenar fotos pornográficas da mesma menor. Afinal, vai ver que alguém já tirou uma foto dela no passado.

Mas isso é o de menos. Na linha de pensamento do STJ, também não haveria por que proibir o trabalho de crianças que já pediram esmola no farol -afinal, já trabalharam, não é? Da mesma forma, não seria crime estuprar uma mulher que já foi estuprada. E o que acontece com assaltar alguém que já foi assaltado? Ainda bem que, por sorte, não dá para matar alguém que já foi morto.

A decisão do STJ não é uma excentricidade. Ao contrário, ela é reveladora de uma verdade que está escondida atrás de nossa "proteção" da criança e do adolescente.

Nossa cultura decidiu separar as crianças dos adultos. Instituímos, por assim dizer, a infância como tempo da vida que deveria ser protegido tanto das necessidades (crianças não devem ganhar seu pão) quanto do desejo (chegamos a negar a sexualidade infantil).

Tudo isso, aos poucos, acabou amparando efetivamente as crianças, mas a intenção inicial não era, propriamente, a de lhes reservar um destino melhor. Tratava-se de responder a uma necessidade dos adultos: mais ou menos duzentos anos atrás, com a progressiva crise de nossa fé no além e na eternidade das almas, as crianças se tornaram oficialmente nossa grande (e talvez única) garantia de continuidade, se não de eternidade. Morremos, e as crianças têm a missão de dar seguimento à nossa vida. Claro, gostaríamos que nosso futuro fosse melhor que nosso presente, portanto queremos que as crianças encenem, para nosso contentamento, uma visão de paraíso que compense nosso purgatório ou inferno cotidianos.

Qual melhor consolação, para nós, cujas esperanças foram frustradas, do que a de contemplar nas crianças a felicidade que nos escapa? Somos infelizes e a vida é dura? Pois bem, faremos o que é preciso para que as crianças sejam (ou pareçam) felizes.

Em suma, amamos nas crianças apenas um sonho de nosso próprio futuro. E as crianças que não são "aptas" a encenar esse sonho não são propriamente crianças, pois o que definiria as crianças (as que queremos proteger) não seria sua idade, mas sua capacidade de encenar uma infância feliz.

Pois bem, a decisão do STJ é fiel a essa inspiração originária de nossa cultura: pouco importa que ela tenha 12, 13, 15 anos ou menos, uma menor que se vende num ponto de ônibus já não tem mais como encenar para nós a vinheta da infância feliz. Portanto, ela não é mais "criança". Transar com ela não é mais transar com uma criança, não é?

Essa lógica, aliás, vale para todas as crianças que, por uma razão ou outra, não podem mais (se é que um dia puderam) encenar o cartão postal sorridente que chamamos infância -por exemplo, as que encontramos nas esquinas ou dormindo debaixo das marquises de nossas ruas.

Em suma, o STJ decidiu como se quisesse proteger não as crianças (como manda a letra da lei), mas o mito da infância. A Procuradoria recorrerá. Veremos como decidirá o Superior Tribunal de Justiça.