quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fábrica de hits do pântano chega aos 40

Seis álbuns originais do famoso grupo de rock caipira Creedence Clearwater Revival são lançados com extras e encartes

Fonte: Folha

Existem duas curiosidades sobre o Creedence Clearwater Revival que ajudam a definir a banda.

A primeira diz respeito ao som propriamente dito. Ele evoca, tanto as letras quanto as músicas, um som rural, interiorano, de uma América profunda. "Born on the Bayou", "Green River", "Lodi", "Who'll Stop the Rain", "Cotton Fields" são clássicos que falam com um otimismo irreal das belezas e vantagens da vida no campo, em detrimento do buzinaço e da maldade das cidades.

Isso é óbvio para quem escuta o Creedence já na primeira vez. A curiosidade vem agora: os guitarristas John e Tom Fogerty, o baixista Stu Cook e o baterista Doug Clifford não são do sul dos Estados Unidos, não nasceram nos pântanos da Louisiana, não foram criados à margem de rios nem cresceram correndo por líricos campos de algodão.

Os quatro são de San Francisco e John Fogerty, o compositor de tantos clássicos, inspirou-se no que via no cinema e na TV ou ouvia nos rádios para montar essa persona caipira com quem viria a se confundir.

Essa é uma das histórias contadas pelo jornalista Ben Fong-Torres, famoso por seu trabalho na revista "Rolling Stone" nos anos 60 e 70, no encarte do primeiro disco da banda.

O relançamento dos seis discos originais, agora com músicas extras, fotos e novos textos, marca o aniversário de 40 anos do Creedence, cujo primeiro disco saiu em julho de 1968 (confira quadros à esq. e à dir.).

A segunda curiosidade referente ao CCR tem a ver com sua quase inacreditável velocidade em fabricar hits. Está certo que era uma época em que Beatles, Rolling Stones e Kinks lançavam um clássico atrás do outro, mas o Creedence exagerou.

Em 1969 e 1970, lançou cinco álbuns, todos eles figurando no top ten. A esses cinco, soma-se a estréia em 1968 e um disco temporão em 1972, "Mardi Gras", que apesar de ostentar o nome da banda na capa, já não era mais o CCR original.

Tom Fogerty tinha abandonado o barco e seu irmão John, a principal força criativa do grupo, estava livre para exercer sua ditadura. Assim, obrigou o baixista e o baterista a comporem canções nas quais se recusava a colaborar de qualquer maneira além de fazer uma guitarrinha base. Uma única canção restou dessa fase esquecível: "Sweet Hitch-Hiker", de John Fogerty.

Já os extras sonoros dos seis álbuns trazem takes descartados, canções ao vivo -principalmente gravadas na Europa, para onde a banda excursionou em 1971, já sem Tom- e uma única música inédita em CD: "Call it Pretending", lado B do primeiro single do Creedence, ainda sob o nome The Golliwogs. O lado A, "Porterville", saiu no primeiro disco do CCR.

Número dois

Uma última curiosidade, esta apenas curiosa: apesar de emplacar tantos hits e lançar tantos álbuns campeões de vendagem, o CCR jamais colocou uma canção em primeiro lugar nos Estados Unidos.

Meteu, isso sim, cinco em segundo lugar: "Proud Mary", "Bad Moon Rising", "Green River", "Travellin" Band" e "Lookin" Out My Back Door".

Outros top ten foram "Down on the Corner" (3º lugar), "Up Around the Bend" (4º), "Have You Ever Seen the Rain" (8º) e "Sweet Hitch-Hiker" (6º).

"Proud Mary", hoje provavelmente a canção mais conhecida do Creedence, conseguiu manter a segunda posição por três semanas, mas não chegou lá no topo. Bob Dylan, por outro lado, declarou ser esta sua canção preferida de 1969. O que já é mais que suficiente.

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DISCOS DO CREEDENCE

Gravadora: Universal

Quanto: R$ 44,90, cada

Avaliação: ótimo

DISCOGRAFIA

Os três primeiros

"Creedence Clearwater Revival"

Lançamento: julho de 1968

Posição na Billboard: 52º

Clássicos: "Suzie Q", "I Put a Spell on You"

Principal extra: "Before You Accuse Me", que seria regravada em versão melhor e mais rápida no quinto disco, "Cosmo's Factory"

"Bayou Country"

Lançamento: janeiro de 1969

Posição na Billboard:

Clássicos: "Born on the Bayou", "Good Golly Miss Molly", "Proud Mary"

Principais extras: versões ao vivo de "Born on the Bayou", em Londres, e "Proud Mary", em Estocolmo, da turnê de 1971

"Green River"

Lançamento: agosto de 1969

Posição na Billboard: 1º

Clássicos: "Green River", "Bad Moon Rising", "Lodi"

Principais extras: duas músicas inacabadas, sem vocal, "Broken Spoke Shuffle" e "Glory Be"

Os três últimos

"Willy and the Poor Boys"

Lançamento: novembro de 1969

Posição na Billboard:

Clássicos: "Down on the Corner", "Cotton Fields", "Fortunate Son"

Principal extra: versão bem mais pesada que a original de "It Came Out of the Sky", ao vivo em Berlim

"Cosmo's Factory"

Lançamento: julho de 1970

Posição na Billboard: 1º

Clássicos: "Travellin" Band", "Lookin" Out My Back Door", "Run Through the Jungle", "Who'll Stop the Rain" "I Heard it Through the Grapevine"

Principal extra: jam session com a banda de soul Booker T. & the M.G.'s, tocando "Born on the Bayou"

Pendulum

Lançamento: dezembro de 1970

Posição na Billboard: 5º

Clássicos: "Hey Tonight", "Have You Ever Seen the Rain"

Principal extra: esquisitíssimo single promocional "45 Revolutions Per Minute (Parts 1 & 2)", uma colagem de entrevistas, barulhos e sons, na esteira de "Revolution 9", dos Beatles

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