sexta-feira, 15 de maio de 2009

De forma didática, José Mindlin abre sua famosa biblioteca

De forma didática, José Mindlin abre sua famosa biblioteca

Duílio Gomes*, JB Online

Há quem colecione tumbas egípcias milenares, como a artista plástica Yoko Ono, e quem faça coleção de livros raros, como José Mindlin.

Colecionar, não importa o que seja, é uma paixão antiga como o mundo e quem se dá a esse hábito (muitas vezes dispendioso) gasta mais da metade de sua vida à procura dos objetos de seu desejo e nunca se sacia.

No recém lançado No mundo dos livros (Agir. 104 páginas. R$ 29,90), o empresário paulista José Mindlin, de 95 anos, conta um pouco de sua experiência como colecionador de livros. Ao contrário do seu Uma vida entre livros, em que detalha suas garimpagens em livrarias brasileiras e estrangeiras à procura de edições raríssimas – algumas com mais de 500 anos de publicação – em No mundo dos livros ele fica exclusivamente no campo didático e, em 108 curtas mas saborosas páginas, faz comentários sobre títulos, raros ou não, escritores e a função social da literatura. Assim, após discorrer sobre a primeira Bíblia editada por Gutemberg em 1455, constata que a produção de livros está ligada intimamente à alfabetização e que, nos 300 anos do Brasil Colônia, o analfabetismo era um fato estarrecedor. “Ainda hoje”, espanta-se ele, “embora tenha crescido a alfabetização, parte dela é muito precária. ssa situação é causa e efeito de exclusão social”.

No mundo dos livros vem enriquecido com um álbum de fotos mostrando algumas relíquias da biblioeca de 40 mil obras do empresário, muitas delas, apesar de centenárias, absolutamente bem conservadas graças ao empenho de Guita, mulher do bibliófilo, que estudou conservação e restauro na Europa.

“Quem não lê, não sabe o que está perdendo”, ensina Mindlin, provando, depois, que a leitura dá, à vida, um sentido espiritual, abrindo horizontes e estimulando, ao mesmo tempo, a imaginação e o sonho. Depois disso fica mais fácil entender a grandeza de autores por ele citados, como Xavier de Maistre, Alexandre Dumas, Romain Roland, Montesquieu, Proust, Balzac, Dostoievski e os nossos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Bandeira, João Cabral, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon e Graciliano Ramos.

Formado em direito pela Universidade de São Paulo, José Mindlin foi também jornalista no Estado de S. Paulo, e criou a Metal Leve, uma das grandes empresas do setor de peças automotivas do país. Em 1999 foi eleito para a Academia Paulista de Letras e em 2006 ingressou na Academia Brasileira de Letras.

“Quem lê, reivindica”. Esta é, no final do volume, outra lição-provocação do autor que, ao falar sobre a força política do livro, tece comentários virulentos sobre a censura em tempos de arbítrio e o temor que os governos arbitrários têm dos livros. Queimá-los em praça pública é a solução mais comum e covarde que tais governos de exceção encontram para ficar livres de “idéias avançadas”. A Igreja Católica, com o seu Index Librorum Prohibitorum, deixou claro também que o livro tem poderes insuspeitados e pode fazer, de uma inocente beata, uma líder de passeata. Com o punho erguido, claro.

* Jornalista e escritor

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