quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Volta dos factóides

A Volta dos factóides

O vírus da re-reeleição está definitivamente inoculado no DNA dos governistas.

Fonte: José Márcio Mendonça*,  Diário do Comercio

A conjunção nos céus brasilienses de alguns astros em órbita negativa – os problemas de saúde da ministra Dilma Roussef, levados, criminosamente, aos palanques pelo presidente Lula e alguns aliados; e as críticas ao comportamento “funcional” de deputados e senadores – fez baixar na capital da República antigos factóides que costumam aparecer nessas ocasiões. Alguns são sacados para distrair o grande público, outros naquela base do "se colar, colou". Desta vez, no entanto, alguns deles podem até "colar", face às circunstâncias em que estão sendo relançados.

Com mais discrição, explicavelmente, retorna o zumzum a respeito de um possível novo mandato para o presidente Lula. É verdade que a idéia, desde que surgiu, há três ou quatro anos, nunca foi definitivamente sepultada. Sempre hibernou, apesar das reiteradas negativas do presidente Lula sobre alimentar qualquer veleidade nessa direção. O vírus da re-reeleição está definitivamente inoculado no DNA dos governistas.

O drama da ministra Dilma apenas reacendeu a chama – despertou o PT e os aliados para a realidade indigesta de que não será fácil "construir" uma candidatura a partir do quase nada. Há sinais de fumaça que os observadores mais argutos já farejaram. Caso do atual secretário de Justiça de São Paulo, Cláudio Lembo, interlocutor privilegiado de outro bom entendedor, o senador Marco Maciel.

Lembo está convicto de que virá uma tentativa para valer de aprovar as reeleições sucessivas. Maciel acha que agora um projeto desses pode passar no Senado. Atento, o ex-presidente Fernando Collor, agora aliado de Lula, pensa o mesmo, como disse em entrevista nesta semana ao jornal Valor Econômico. O próprio Lula alimenta as suspeitas quando insiste em que a ministra Dilma é sua candidata, mas que depende de tornar-se viável aos olhos do PT e dos outros condôminos da coalizão governista.

É tudo o que os parceiros querem – para eles (e para o próprio interessado), “marolinha” à parte, Lula é imbatível. O que é garantia contra o risco de um alto índice de desemprego de petistas, peemedebistas e outros no serviço público federal no caso de o poder passar para as mãos da oposição. Lembremo-nos de que mais de 20 mil cargos de confiança, aqueles ocupados sem concurso (de “livre provimento” no jargão burocratês nacional) foram entregues a petistas de carteirinha. Perder isso?

O outro factoide é, desculpem a insistência em algo aborrecido – a reforma política. Dessa vez, revestida de uma aura de solução institucional. Vai servir para tentar aplainar um pouco a imagem do Congresso. A proposta tem como carro-chefe o financiamento público das campanhas e o fim do voto em nomes, com a votação em lista partidária. De penduricalho, que vai omitido ao máximo pelos defensores do projeto, virá também a janela da infidelidade.

Três desastres, como já comentamos em outro artigo recentemente.

O problema das campanhas não é o financiamento privado, mas o caixa dois e as contribuições ocultas para os partidos, uma espécie de caixa dois envergonhado. Essa prática não será inibida, portanto teremos apenas campanhas mais ricas. Calcula-se que, para 2010, se a idéia prosperar, haverá cerca de R$ 1,2 bilhão a mais para a farra eleitoral.

O voto em lista, no qual o eleitor não escolhe mais o candidato a deputado, mas apenas o partido, da forma como está nossa legislação eleitoral e partidária trará a perpetuação do quadro atual e a perpetuação da oligarquia partidária, pois quem fará a lista e definirá a ordem de cada candidato nela será(ão) o(s) dono(s) dos partidos. Em poucas palavras, mudanças para não mudar nada. Sobre a volta da infidelidade, nem é preciso falar, tal a indecência. Absurdos que, dado o ambiente, podem passar.

E assim, vai nossa política. Cada vez mais dos políticos e cada vez menos dos cidadãos.

* José Márcio Mendonça é jornalista e analista político

Nenhum comentário: