sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Trapalhões x Monty Python

Trapalhões x Monty Python

O nosso Brasil x Inglaterra,

disputado em uma praia alagoana,

foi o jogo mais feio que (não) vi na minha vida

XICO SÁ, hoje na Folha

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, acabei de humilhar uns ingleses em uma pelada na praia de Japaratinga, Alagoas. Escrevo ainda resfolegante, desculpa aí, gente, pelos maus-tratos com a gramática e a prosódia, vai assim mesmo, vale a vida que o vento leva.

Foi o jogo mais feio que vi e joguei na história. Nem aquele Íbis x Santo Amaro, que cobri nos anos 1980 no Recife, em uma Quarta-Feira de Cinzas, chegou aos pés.

Seis contra seis. Brasil x Inglaterra, com dois alagoanos beatlemaníacos reforçando o time da rainha. De uma dúzia de marmanjos, oito usávamos óculos com graus nas alturas.

Primeiro acerto: todos devem se livrar das lentes e jogar cego mesmo. A regra é clara, o futebol é no escuro.

Na primeira disparada como falso ponta-esquerda, caí no colo de uma tiazinha que brincava inocentemente de castelo de areia com as crianças. Colo macio, justiça seja feita, nestes tempos de mulheres com barrigas duras como as de travestis.

Brasil x Inglaterra, digo, Trapalhões x Monty Python, com direito a alguns minutos de puro futebol filosófico, como na invenção do grupo inglês de humoristas. Juro que tentei usar tudo que aprendi em um recente bate-bola no Parque Antarctica com Sócrates -gravação de umas chamadas para o "Cartão Verde", programa que fazemos juntos na TV Cultura. Em vão.

Onde buscava o calcanhar estiloso do Magrão, encontrei só marmotas, trejeitos e mungangas do anti-herói Didi Mocó Sonrisal, meu ídolo de infância, madureza e velhice.

Vendo aquele espetáculo, o titio Nelson riscaria uma das suas belas frases: a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana!

Esqueça o que escrevi, diria o gênio, padrinho espiritual desta coluna juntamente com o bom Antônio Maria, claro que não sou besta de me apadrinhar de quem não presta.

Não havia nada de shakespeariano naquela pelada. No máximo, consegui aplicar um involuntário drible da vaca louca em um dos ingleses.

Justamente no brancão maluco, torcedor do Chelsea, que havia ingerido, segundo o Databoteco, 11 caipirinhas de cachaça. Sim, ele também havia fumado do bom e do melhor da Cabrobonha sertaneja, beira do rio São Francisco.

Segue o jogo dos perdidos no paraíso. Girei a perna, em um momento de câimbra, e vi uma boyzinha -como são chamadas as lolitas em alguns lugares do Nordeste- gritar "golaço!". Fui tomar satisfação: "Como assim, por que golaço?".

Havia sido um gol espetacular, segundo os novos amigos. Pena que não faço a menor ideia do que havia feito. Vai ficar como aquele de Pelé contra o Juventus. Um mistério sem imagens é sempre mais bonito.

Segue a vida. O golaço que fiz e não vi me deu saudade dos velhos atacantes zumbis e geniais. Os Fios Maravilhas, os Dadás, os Chulapas...

Qual o placar do nosso Brasil x Inglaterra? Outro mistério para a eternidade. Nem o garçom que tomava conta da turma e muito menos a boyzinha fazem ideia da contagem.

Apareceu até testemunha que dissesse que foi o maior 0 a 0 da história ludopédica. Quem sabe?

Tenho a impressão que foi 20 a 19 para os Didis Mocós! Oficialmente é o que fica valendo e revoguem-se quaisquer versões dos ingleses.

xico.folha@uol.com.br

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