Sonhando acordada
Fonte: Adriana Falcão, Estado, 28 nov. 2009
Luciene e... Gabriel!
Gabriel ia ser o máximo.
Imagina só eu com um namorado que atendesse pelo nome de Gabriel?
- Mas vejam que novidade, você está namorando! Como é que ele se chama?
- Gabriel.
- E ainda tem nome de anjo!
Todo mundo ia ter inveja de mim. Ainda mais que Gabriel tem a maior cara de homem bonito. E inteligente. E rico. E jovem. Mas aí também já era querer demais. Não. Gabriel é muita areia pro meu caminhãozinho.
Filipe?
Luciene e Filipe. Não é anjo, mas é rei. Filipe IV, rei de Espanha. Sendo que, com a minha falta de sorte, está na cara que o meu Filipe ia ser, no máximo, vereador. Ainda assim eu duvido que ele ganhasse a eleição. Arranjar um namorado já está difícil, quanto mais um namorado vencedor. Nunca que eu ia conseguir um negócio desses. Desculpa, Filipe, mas você acaba de perder a chance de namorar comigo pela razão de que eu nunca conseguiria ter chance com você.
Melhor pensar menor.
Não precisa ser rico, nem jovem, nem rei, nem candidato a nada.
Se estiver empregado já é um luxo.
Digamos, Bento.
Bento é bom. Um rapaz meio tímido, meio apagado até, mas muito sincero. Bento é ótimo. Trabalhador. E não é nome tão concorrido. Não é possível que eu não encontre um só Bento disponível. Mas o problema é justamente que Bento tem pouco. Melhor arranjar um nome mais usado.
José. É bastante populoso. Com a vantagem que pode ser José Antônio, José Armindo, José qualquer coisa que fosse. Juro que eu não me incomodava se fosse José Pafúncio. Eu chamava ele de Zé puro e a gente ia ser feliz até demais.
- Zé!
- Fala, Luciene.
- Me chama de Lu.
- Pra quê?
- Pra todo mundo achar que eu me chamo Luciana.
- Se for pra mentir, melhor chamar logo de Diana que é nome de princesa.
- Diana e Charles.
- Charles não, Luciene, eu prefiro José Pafúncio.
José Pafúncio tem razão, mesmo não existindo. Mentir não vale. Tem que ser um namorado com o nome dele mesmo. Deve ser por isso que a gramática chama isso de "nome próprio". Porque é o nome próprio da pessoa. Ainda que a pessoa seja pura imaginação. E mesmo que eu não ache apropriado alguém se chamar Hipólito, se vier um Hipólito, há de ser Hipólito e pronto. Popó, que seja. Pois apelido, isso é claro que vale.
Lu e Popó?
Para de pensar besteira e vai dormir, Luciene, que amanhã você tem trabalho cedo!
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