sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Andreas Grigorópulos X João Roberto

Um ocorreu na Grécia na semana passada, o outro aqui no Brasil julho passado...na Grécia houve uma revolta popular contra o assassinato de Andreas, no Brasil, cinco meses depois, ninguém mais se lembrava deste bárbaro homicídio ocorrido no Rio de Janeiro, onde o carro (que foi confundido por de ladrões) onde estava o menino João Roberto foi alvejado com dezenas de disparos feito por um PM (no qual foi absolvido da acusação de homicídio duplamente qualificado).

Aqui chega onde eu queria.....mostrar essa passividade do povo brasileiro, enquanto que na Europa, a morte de um rapaz desencadeia uma serie de manifestações (e aqui não cabe se julgar se são políticas ou não) e que já ultrapassa fronteiras.....

Não sou a favor de uma revolta popular, apesar de achar que cada vez mais, talvez essa seja a solução....mas que não podemos ficar de braço cruzados, isso não!

Abaixo os dois textos que saiu pela Folha de São Paulo, um tratando o jovem grego e o outro sobre João Roberto.

Morte de jovem pela polícia provoca protestos na Grécia

Manifestantes saqueiam lojas e enfrentam policiais nas principais cidades gregas

Agitações ocorrem em momento político ruim para o hoje impopular premiê, que é alvo de crítica por escândalos financeiros

Fonte: Folha

Os três maiores centros urbanos da Grécia registraram saques, tumulto e choques entre policiais e manifestantes. Os protestos, que ontem entraram em seu segundo dia, foram motivados pela morte de um rapaz de 15 anos por policiais na noite de sábado. Além das cidades de Atenas, Salônica e Patras, houve agitações também nas ilhas turísticas de Creta e Corfu.

Os mais violentos protestos no país desde 1985 começaram após a morte ocorrida no bairro estudantil de Exarchia, no centro de Atenas -região famosa como "gueto dos anarquistas" e berço do movimento estudantil de 1973, cujo corolário foi o fim do "regime dos coronéis", ditadura militar iniciada em 1967.

Depois de um grupo de 30 pessoas lançar pedras e outros objetos contra uma viatura policial, um de seus ocupantes desceu do carro atirando. Inicialmente as autoridades disseram que eram tiros de alerta, mas testemunhas relataram às emissoras de TV locais terem visto um policial mirando contra Andreas Grigorópulos, que foi baleado no peito.

Assim que a notícia da morte do adolescente foi confirmada, manifestantes foram às ruas para protestar contra a arbitrariedade policial, o governo direitista do premiê Costas Karamanlis e o ministro do Interior.

Em Atenas, carros foram incendiados, lojas destruídas e saqueadas. Policiais responderam com gás lacrimogêneo, numa ação que deixou ao menos 34 feridos e 20 presos. Segundo a agência de notícias espanhola Efe, moradores de locais distantes a até 15 km do centro da cidade relataram ter sentido o cheiro do gás e da fumaça dos focos de incêndio.

Coordenação

Os manifestantes não se movimentaram às cegas. Na internet, publicavam dados sobre os confrontos assim que eles aconteciam. Mensagens para encorajar as pessoas a se unir a grupos concentrados em pontos específicos da cidade também foram divulgadas, com palavras de ordem como "derramamento de sangue demanda vingança" e "uma picareta no crânio de cada policial".

Em vão, o governo tentou acalmar a população. O presidente Carolos Papulias declarou que "a morte do jovem é uma ferida no Estado de Direito" e o premiê, publicamente, pediu desculpas ao pai do adolescente, um gerente de banco.

O ministro do Interior, Prokopis Pavlopulos, ofereceu sua renúncia, rejeitada por Karamanlis.

As autoridades anunciaram a prisão dos dois policiais envolvidos na morte de Grigorópulos na manhã de ontem. O autor do disparo é acusado de assassinato intencional e uso ilegal de arma. Seu parceiro, de colaboração em assassinato. Eles serão interrogados na quarta-feira perante a Justiça.

Os incidentes dos últimos dias remetem a 1985, quando, na marcha anual em homenagem ao levante estudantil de 1973, um adolescente de 15 anos foi baleado e morto por um policial em Exarchia -lançando uma onda intermitente de choques entre estudantes e policiais, que durou meses.

Cenário político

Os protestos acontecem em um momento desfavorável para o premiê -cujo partido tem maioria de apenas dois assentos no Parlamento. Karamanlis tem experimentado queda em sua popularidade, em decorrência de escândalos financeiros. Desde setembro, ele perdeu dois ministros, envolvidos em transação imobiliária ilegal que deve custar aos contribuintes gregos mais de 100 milhões (R$ 316,6 milhões).

Os socialistas, da oposição, hoje têm a liderança nas pesquisas de opinião pública -o que, segundo analistas citados pela agência Reuters, pode forçar Karamanlis a marcar eleições antecipadas em 2009.

Promotoria recorre de absolvição de PM do caso João Roberto

Por quatro votos a três, júri inocentou policial militar acusado de matar menino de três anos em julho deste ano no Rio

Decisão revoltou a família; "Estou chocada. Meu filho morreu em vão. Ele [o PM] atirou, teve intenção, e está na rua", disse a mãe do garoto

Fonte: Folha

O Ministério Público do Rio entrou com um recurso contra a absolvição do PM William de Paula no julgamento da morte do menino João Roberto Amorim Soares, 3, morto em julho. Por quatro votos a três, o 2º Tribunal do Júri inocentou o cabo da acusação de homicídio duplamente qualificado.

O julgamento terminou às 23h55 de anteontem. William foi condenado pelo crime de lesão corporal leve, para o qual recebeu pena de prestação de serviços comunitários por um ano. Preso há quatro meses no BEP (Batalhão Especial Prisional), ele foi solto na tarde de ontem. Por orientação do advogado, não falou com a imprensa.

A decisão revoltou a família de João Roberto, morto após William e o soldado Elias Gonçalves da Costa Neto -que ainda será julgado- supostamente confundirem o carro onde ele estava com o de ladrões.

Dezessete disparos atingiram o automóvel, dirigido pela mãe do menino, Alessandra Amorim, e onde também estava o irmão de João Roberto, então com nove meses.

O júri entendeu que o PM cumpria sua função e não tinha intenção de matar o menino. A punição por lesão corporal leve foi dada porque a mãe ficou ferida por estilhaços e o irmão de João teve problema auditivo.

"Estou chocada. Meu filho morreu em vão. Ele [o PM] atirou, teve intenção, e está na rua", protestou Alessandra. "Quer dizer que hoje a polícia pode matar e fica por isso mesmo?", questionou o pai, o taxista Paulo Roberto Soares.

O promotor do caso, Paulo Rangel, considerou a absolvição "uma carta branca que a sociedade entregou aos PMs". "Se eles matam um garoto de três anos, naquelas circunstâncias, e estão agindo no estrito cumprimento do dever legal, imagina quando forem a uma favela."

Rangel afirmou à Folha que, na reunião do júri, alguns membros tiveram dificuldade para entender o questionário proposto e votaram por engano a favor do PM. "Um jurado na hora disse "não entendi, doutor". O juiz [Paulo Valdez] repetiu, mas ele ficou com vergonha de dizer que ainda não tinha compreendido. Quando o juiz leu "com essa decisão vocês absolveram ele", dois disseram "não é isso, não"."

O juiz negou que tenha havido qualquer manifestação dos membros do júri após o anúncio da absolvição. Segundo ele, a dúvida expressa dizia respeito a uma das teses da defesa, e não em relação à absolvição.

"Estou sendo surpreendido por esta declaração. A Promotoria não consignou nenhum protesto em ata", disse Valdez à Folha. "Só porque a votação não atendeu à expectativa de uma ou de outra parte, o juiz não tem que repetir a votação."

O advogado de defesa do cabo, Maurício Neville, também entrou com recurso contra a decisão, questionando a pena de prestação de serviços comunitários por sete horas semanais durante um ano. Ele sustenta que o PM já cumpriu a pena ao passar quatro meses preso. Os recursos devem ser julgados apenas no próximo ano.

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