terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ex-pedreiro inaugura no subúrbio do Rio biblioteca projetada por Niemeyer

Fonte: Folha

Contagiado há dez anos por uma paixão pelos livros, o ex-pedreiro Evando dos Santos, 48, não pára de lutar para espalhar esse sentimento.

Após reunir 55 mil títulos em sua casa, na Vila da Penha (bairro de classe média baixa na zona norte do Rio), ele inaugurou na sexta-feira a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O prédio, no mesmo bairro onde mora, abriga 10 mil exemplares e sediará aulas de literatura e idiomas.

Nascido em Aquidabã (SE), ele veio com a família para o Rio aos 15 anos. Pouco depois, começou a trabalhar como pedreiro. Sequer com ensino fundamental, aprendeu a ler com a Bíblia. Mas o episódio que mudou sua vida ocorreu em 1998, quando, na obra de uma casa, ganhou 50 livros que iriam para o lixo.

A partir daí, tornou-se leitor voraz, começou a juntar outras obras e montou uma rede que já recebeu apoio tanto de anônimos quanto de nomes como o das escritoras Ana Maria Machado e Ruth Rocha, que fizeram doações.

Nos últimos dez anos, o "operário em construção" ajudou a fundar 45 bibliotecas comunitárias em todo o país. Também doou 4.700 livros para Angola e agora quer enviar outros 20 mil para Santa Catarina.

A história do pedreiro já virou livro e filmes, mas a biblioteca de três andares e 200 metros quadrados é sua principal obra. O espaço foi inaugurado com uma carta da escritora Nélida Piñon, da Academia Brasileira de Letras. "Considero-o um cidadão exemplar, capaz de sonhar, de devotar-se às utopias ao alcance do homem", escreveu.

A biblioteca levou três anos para ser construída e contou com R$ 651 mil do BNDES. Os livros podem ser retirados gratuitamente. Os estudantes Larissa Sabino da Silva, 10, e Ramon Martins, 11, foram os primeiros a pegar obras emprestadas. "Adoro ler, tenho uns 40 livros", disse Ramon.

Santos, que vive com o auxílio das aposentadorias da mulher e da mãe, conta que nunca teve "tentação" de vender as obras que reuniu. "Livro não devia ser vendido, devia ser editado apenas para ser doado", sonha.

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