sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um urubu pousou na minha sorte

Na minha também!

XICO SÁ, na Folha de hoje.

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, dedicado no momento à Libertadores e às ligas internacionais, o corvo Edgar passou em cartório, em regime de procuração, a Copa do Brasil ao urubu de Augusto dos Anjos, ave que costuma pousar na nossa sorte e promover um estrago assombroso e miserável.

Assim o primo-irmão agourento, nesta semana de aniversário de 125 anos do poeta paraibano, elegeu de cara o maior favorito da rodada, o Santos Futebol Clube, o mais épico de todos os times do Universo, o único com o poder de cessar-fogo em guerras d'África e reunir tribos inimigas para apreciar o esporte. Coube ao CSA das Alagoas, sob risco de rebaixamento no Estadual, protagonizar o macabro episódio na Vila Belmiro. Bem na semana em que o alvinegro começa a decidir o certame tido como o mais importante do país. Jogasse a noite toda naquela fatídica quarta, o Peixe não vazaria o gol do azulão do Mutange.

O urubu do poeta que se declarou filho do carbono e do amoníaco ainda avisou ao garoto do placar santista: "Vai para tua casa, ô bom menino, é um tento solitário do visitante e never more, nunca mais, ninguém sentirá aqui a tua falta". Os gols só voltarão no domingo, no clássico em preto e branco, teria confidenciado o primo-irmão do corvo ao deixar a Baixada. Próximo destino: Maracanã, Rio, Flamengo x Botafogo. É rubro-negro, óbvio, como o urubu do Henfil, seu camarada, mas diz que a missão é particularíssima. Tenta, há algum tempo, desfazer os azares da vida de Cuca, excelente técnico que teima em mascar o jiló da metafísica.

Só mesmo contra o clube da estrela solitária, julga a ave augustiana, será possível vê-lo trocar o vinilzão do Nelson Cavaquinho ("Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor") por uma faixa mais leve do Cartola ("A sorrir, eu pretendo levar a vida,/ pois chorando eu vi a mocidade perdida"). Boa viagem, urubu, câmbio, desligo, até a próxima rodada e parabéns ao velho Dos Anjos por mais um aniversário. Ao povo do Engenho Pau d'Arco e de Sapé, aquele abraço. Correria. O corvo Edgar me chama no telepático. Sua curtição agora, sopra, é o grupo da morte da Libertadores. Nada mais a seu gosto. Esteve no Recife, conta, na Ilha de Lost, para ajudar o Leão a enfeitiçar "El Cacique", o freguês Colo Colo.

Agora viaja para Santiago do Chile, onde espera o Palmeiras com um bom vinho dos Andes e uma misteriosa criatura descendente dos mapuches, as fêmeas dos olhos mais envenenados das Américas. Vais secar quem?, indaguei. "Depende do comportamento do Luxa até a hora do jogo", respondeu com cinismo. "Sabe como é, meu amo, se tem pecado capital que não perdoo é a tal da soberba", grasnou. Repara quem fala em pecado, tiro uma buena onda com o agourento, logo tu, Brutus, que só aprecia o que é ilegal, imoral ou engorda.

"Não quer meu palpite para Santos x Corinthians?", disfarça e chora o Edgar, mudando de assunto. Ah, não tinha deixado o Paulistinha, por quem nutrias só desprezo? A província agora é da alçada do urubu do Augusto, mas como não resisto a um vaticínio, deixo aí o meu pitaco: 2 a 1 Peixe. E quer saber mais: no Rio dá Fogão 2 a 0. Xô, uruca!

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