quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De volta aos cafundós

de Ruy Castro

Nelson Rodrigues dizia que, se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos  outros, ninguém cumprimentaria  ninguém. Donde não é boa política  que, numa campanha eleitoral, um  candidato se sente em cima do próprio rabo e fale do rabo alheio.
O que vai dito acima não se refere  à estratégia da candidatura de Marta Suplicy para desmerecer a de Gilberto Kassab pela Prefeitura de São  Paulo, perguntando se ele é casado  e tem filhos -mas a algo ainda mais  imoral que está acontecendo no  Rio: a distribuição de panfletos apócrifos e ofensivos ao candidato do  PV à prefeitura carioca, Fernando  Gabeira, acusando-o de homossexual, drogado e ateu.

É chocante que, nas duas maiores cidades brasileiras, no século 21, partidos que se pretendem modernos ressuscitem práticas que ficariam melhor em eleições nos cafundós e grotas da República Velha. No caso de São Paulo, é de se perguntar se os milhares de eleitores petistas também solteiros e sem filhos não se sentirão respingados pela malícia abjeta da pergunta que seu partido pôs no ar.

Como moro no Rio, não tive o  desprazer de ouvir a gravação, mas,  pelo que me contaram, pode-se  perceber a lascívia escorrendo pela  boca encharcada do locutor, misturada com o veneno. Seja como for,  essa peça de campanha faz parte da  propaganda oficial do PT. Sabe-se  quem a criou e quem a autorizou.

No Rio, os panfletos são anônimos, embora sua assinatura esteja  apenas oculta por elipse. Devem ser  da mesma autoria de quem inoculou propaganda política a favor do  candidato Eduardo Paes nos telões  do Maracanã (que pertence ao Estado), no domingo último, ou de  quem requisitou ao Secretário Estadual de Segurança a ficha policial  de um militante de Gabeira. A carruagem ameaça reverter a abóbora  antes da meia-noite.

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